Lâmina de Barbear, de Jorge Gomes Miranda



Abre um armário espelhado,
pega em mim.
Pousa-me no lado direito do lavatório.
Inclina-se.
No instante em que a água quente
corre da torneira,
nas mãos em concha mergulha
o rosto; emerge para o aproximar
um pouco mais do espelho
e repara nas linhas
que se formaram nos últimos anos
à volta dos olhos.
O creme percorre a pele áspera,
suaviza-a,
quase uma carícia.
Calmamente começa a fazer a barba:
movimentos certos,
conhecidos.


Olha para o seu lado esquerdo.
Removida do rosto uma sombra,
outra, ainda sem nome,
investe já contra a pele.

Jorge Gomes Miranda

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