Ainda bem que o natal acabou, Carlos Alberto Machado



Ainda bem que o natal acabou
logo que soaram as doze
descolei os lábios da mesa
vomitei as doçarias todas
para cima das notícias
que anunciavam a morte
algures onde o natal
é regado com sangue

e as rolhas das garrafas
são tiros cegos e certeiros
matam velhos e crianças
em natal ou em belém
para o ano haverá mais
se a dor aguentar até lá
nós aqui e eles no inferno
uma data é uma data
e é preciso comemorá-la

com sangue e com lágrimas
um dia os meus lábios
ficarão para sempre
agarrados à toalha de linho.

Carlos Alberto Machado, A Realidade Inclinada, Averno, 2003.

Nenhum comentário: