Poema de amor de Jorge Sousa Braga


Esta noite sonhei oferecer-te o anel de Saturno

E quase ia morrendo com o receio de que ele não te coubesse no dedo.

Eu que servi o Rei da Inglaterra, de Bohumil Hrabal | visões úteis


Eu que servi o Rei da Inglaterra, de Bohumil Hrabal
visões úteis 16 de Novembro 14:30 Teatro Campo Alegre


Eu que servi o Rei de Inglaterra foi escrito no Verão de 1971, de uma vez, e Hrabal escusou-se mesmo a revê-lo para assim preservar a impressão original das imagens. O narrador, o pequeno garçon Ditie, é uma personagem tornada amoral pelo seu sonho de prestígio social e pelo rápido desenrolar dos acontecimentos históricos à sua volta. No coração desta obra encontramos o desencadear da Segunda Guerra Mundial: é o final da década de 30 e Adolf Hitler, após anexar a região dos Sudetas (situada na Checoslováquia, mas cuja população é maioritariamente de ascendência alemã), acaba por ocupar Praga e todo o país. Ditie é arrastado pelos acontecimentos sem os julgar, e acaba por se colocar, a cada momento, do lado “certo”, na busca dessa estatura que a Natureza lhe negou. ( in Visões Úteis)

A vida, por Juliana

James Dean Oil Painting,Road to Happiness

A vida é o que nós queremos que ela seja. A felicidade não se conquista: somos nós que a criamos. A vida é muito mais do que a simples rotina diária: o mundo tem muito mais para nos dar do que aquilo que olhamos sem ver. Vamos buscar tão longe aquilo que está perto. Vemos as pessoas como dados adquiridos. Desejamos voltar ao passado quando nos devíamos preocupar em viver o presente. Deixamos que o orgulho e o medo nos empeçam de seguir os nossos sonhos e, depois, culpamos a vida por não sabermos desvendar a humanidade.

Ama o impossível

“Ama o impossível, porque é o único que não te pode decepcionar
Vergílio Ferreira

Nas cantigas de amor, o trovador exprime o seu amor por uma dama, que apenas ouve os poemas que lhe são dedicados: nunca se pronuncia. Ele ama o impossível, o inatingível: sabe que ela nunca vai corresponder ao seu “amor” e, ainda assim, continua a admirá-la à distância.
Jessica

A mulher na publicidade, na Juliana

(Graça Morais)


A mulher reinavam como suseranas, na poesia medieval. Eram vistas como um modelo ideal, como um objecto poético emudecido. Contudo, na vida quotidiana, a mulher tinha um papel insignificante. Era o homem o detentor de todo o poder. Era como se existissem dois mundos, duas esferas sociais: uma privada e uma pública. A mulher não tinha acesso à esfera pública: à política, à economia, à sociedade. Para o homem, o facto de a mulher se cingir à casa e á família era bom, pois desta forma não se rebelariam contra a sociedade. Por outro lado, actualmente, existe uma forte presença da publicidade, onde a imagem feminina é usada de forma, igualmente, idealizada. Estas imagens distorcidas visam gerar frustração nos consumidores e levá-los a adquirir produtos para que possam chegar mais perto desse ideal.Tanto na idade Média, como actualmente na publicidade, a mulher não passa de uma ficção imaginada. Mas, apesar de tudo, nos dias que correm a situação da mulher é bem diferente. Na Idade Média as mulheres eram submissas porque tinham de se sujeitar a essa situação, agora essa situação só existe quando as mulheres compactuam com ela.

A mulher ao longo dos tempos, por Rui Filipe

(quadro de Graça Morais)

A mulher desde sempre foi idealizada pelo homem, mas nem nos tempos medievais, nem agora no texto publicitário, tem voz própria. Na Idade Média, os poemas eram feitos por homens para a mulher idealizando-a, fazendo-a perfeita , mas apenas em seu próprio beneficio, com o intuito de serem vistos como grandes poetas. Essas mulheres não tinham direito à palavra, não podiam expressar-se. Nos dias de hoje, acontece algo parecido na publicidade, à qual estamos expostos, todos os dias. A mulher é apresentada como um modelo estético e sugere-se que todas deviam ser como esse modelo. Ambas, quer a mulher medieva, quer a mulher da publicidade, são adoradas, idealizadas. São mulheres perfeitas, mas sem poder para dizer o que pensam. No entanto existem algumas diferenças. Enquanto a mulher na Idade Média era vista como um objecto, hoje não é vista assim. A mulher tem acesso a cargos políticos, sociais, profissionais. Os homens também mudaram, tanto nas opiniões, como nas posições. Hoje em dia existem muitos mais homens a cuidar da casa do que na Idade Média (se é que havia algum). Apesar de já terem mais peso na balança, esta ainda não se encontra equilibrada, coisa que devia acontecer.


Rui Filipe

Escrever...

("cabeça de uma mulher" de Picasso)

Elabora um comentário, onde reflictas sobre os pontos de contacto entre a «senhor» emudecida da lírica trovadoresca e as mulheres de papel que invadem a publicidade.


A mulher na publicidade



«Os modelos do feminino apresentados pelos anúncios são entendidos como uma espécie de norma face à qual as mulheres agem, e que se torna impossível de ignorar. »


«Se a publicidade dá a ver imagens do feminino e das mulheres que são interiorizadas e as influenciam em termos de valores e de comportamentos, não é menos verdade que tais imagens emergem num determinado clima social e que captam, portanto, tendências sociais. A publicidade veicula e sedimenta os valores da sociedade na qual opera. São, pois, determinantes, deste ponto de vista, as relações de poder entre homens e mulheres, os valores de género vigentes e o papel social da mulher, uma vez que estes vão também reflectir-se na publicidade e nos anúncios produzidos. Sem pôr de lado o potencial de subversão de valores e de práticas sociais tantas vezes atribuído à publicidade, mesmo em termos dos papéis sociais das mulheres, não é possível contornar o facto de que nenhum tipo de mensagem veiculada socialmente pode fugir da realidade social em que é produzida. Os anúncios que mostram, por exemplo, homens a escolher o seu detergente, a lavar a louça ou a cuidar dos filhos têm um potencial de instigação à mudança social diminuto. Isto porque são criados e lidos à luz de práticas sociais em que são habitualmente as mulheres a realizar estas tarefas. São produzidos para serem interpretados como dando conta de uma realidade não real. Não pretendem dizer que os homens são ou devem ser assim, mas, pelo contrário, que são as mulheres a ocuparem-se normalmente daquelas tarefas e que estes seres do sexo masculino são uma excepção. Face a isto, poderá afirmar-se que, de algum modo, reforçam a norma da mulher dona de casa, em vez de a contrariarem. »

«O visual (a representação imagética publicitária do feminino) toma a seu cargo o social (as atitudes e comportamentos sociais das mulheres), criando representações sociais ao dar a ver representações visuais, "fazendo" mulheres ao mostrar mulheres. »


(excertos do livro Retratos de mulher : construções sociais e representações visuais do feminino)

A mulher na ldade Média


As cantigas de amor são o momento em que a mulher assume o papel de suserana: o homem coloca-se na atitude de seu fiel vassalo. Contudo à mulher apenas lhe era permitido deixar-se adorar. A mulher devia controlar seus impulsos e manter-se em sua postura de senhora. Não podia entregar-se para não infringir as regras do amor cortês. Nesse aspecto, o amor cortês também serviu para impor controle à mulher, pois não se podia romper o sistema de relações sociais hierárquicas que subordinavam o feminino ao masculino e impedia qualquer união entre classes distintas. Longe do amor cortês, a mulher continuava em sua condição inferior, pois essa “promoção” feminina era restrita ao âmbito literário.
Sujeitas à submissão e transformadas em objectos de troca entre homens, as mulheres são lançadas ao sabor das estratégias de alianças de homens que criam normas, codificam e determinam os destinos da mulher.
Dos protagonistas da história, os homens, sabemos sempre o nome, e quase sempre a formação cultural, as amizades, as deslocações, a data e o lugar do nascimento e morte; se são homens da Igreja, sabemos a que ordem pertenceram e que papel representaram; se são leigos, podemos determinar-lhes a condição social e o nível cultural. Das protagonistas da nossa história não sabemos o nome nem a biografia; as mulheres entram nos textos da literatura medieval como mulheres sem voz.
Nas cantigas, a mulher não é a detentora do discurso, não é o sujeito da enunciação que a espelha. O homem a condena por sua liberdade, no entanto, percebe-se que é uma liberdade controlada, pois ela não tem o direito de ser a detentora do discurso que pretende revelá-la em seus cotiodiano e em seus aspectos emocionais. Através da palavra ela se revelaria em poderia instaurar as suas próprias verdades, os seus anseios, as suas dúvidas e as suas exigências emocionais, morais e sensuais. Ao terem a palavra silenciada, as mulheres medievais tinham a vida silenciada.

As cantigas trovadorescas revelam um jogo de espelhos em que à mulher restavam apenas duas opções: ou corresponder à imagem criada pelo clero e endossada pela estrutura patriarcal, metonímia e metáfora de uma ideologia opressotra e conservadora, ou, ao fugir do quadro convencionado, ser religada à marginalidade através de imagens grotescas, da beleza disforme, do cómico, da sexualidade diabólica e desenfreada, da prostituição, da bruxaria, pois o direito à liberdade era limitado e utópico.

Pode alguém ser quem não é? , Sérgio Godinho

A passagem do tempo não impediu que chegassem à actualidade marcas e temáticas já presentes nas cantigas trovadorescas. Mais um exemplo.

- Senhora de preto
diga o que lhe dói
é dor ou saudade
que o peito lhe rói
o que tem, o que foi
o que dói no peito?
- É que o meu homem partiu

Disse-me na praia
frente ao paredão
“tira a tua saia
dá-me a tua mão
o teu corpo,
o teu mar
teu andar, teu passo
que vai sobre as ondas, vem”

Pode alguém ser quem não é?
Pode alguém ser quem não é?
Pode alguém ser quem não é?

Seja um bom agoiro
ou seja um mau presságio
sonhei com o choro
de alguém num naufrágio
não tenho confiança
já cansa este esperar
por uma carta em vão
“por cá me governo”
escreveu-me então
“aqui é quase Inverno
aí quase Verão
mês d’Abril, águas mil
no Brasil também tem
noites de S. João e mar”

Pode alguém ser quem não é?

É estranho no ventre
ser de outro lugar
e tão confusamente
ver desmoronar
um a um sonhos sãos
duas mãos
passando da alegria ao desamor

Pode alguém ser livre
se outro alguém nao é
a algema dum outro
serve-me no pé
nas duas mãos,sonhos vãos,
pesadelos diz-me:
Pode alguém ser quem não é?

Sérgio Godinho, Pré-histórias

Amor, Escárnio e Maldizer


Para quem pensa que a lírica trovadoresca - cantigas de amigo, cantigas de amor e cantigas de escárnio e maldizer - é coisa do antigamente, peço um pouco de atenção para a actualidade musical. Amor Escárnio e Maldizer é título do sexto álbum de originais dos Da Weasel, novamente eleitos como a melhor banda portuguesa pela MTV, que alcançou já um resultado histórico,tendo sido disco de platina no próprio dia de lançamento. “Amor, Escárnio e Maldizer” é um título trazido do antigamente e que tem muita pertinência.



Temos Amor, Escárnio e Maldizer
Haja amor pela música, pela mulher
Pela vida, com todos os seus defeitos
Haja vontade de mudar esquemas dúbios,
truques, maningâncias, preconceitos (até os nossos)
Haja sementes bem cuidadas para tratar do amanhã
Que se prevê cada vez mais difícil
Haja orgulho na cultura nacional
Para além do futebol providencial
Há todo um manancial potencial
Haja igualdade social
Não só em campanha, mas em exercício de mandato
Haja coragem de mandar pra a a prisão de uma vez por todas
Quem o merece, e nós sabemos quem merece, de fato (e gravata)
Haja transparência, consciência e competência, sobretudo,
Haja urgência para cuidar da nossa sociedade com clarividência...
Haja paciência.

Temos Amor, Escárnio e Maldizer