Gustav Mahler: Das Lied von der Erde - Santo António de Pádua pregando aos peixes




Santo António de Pádua pregando aos peixes

 Santo António vai pregar e encontra a igreja vazia.
Dirige-se então aos rios e prega aos peixes!
Eles batem com as caudas!
Como brilham ao sol.

As carpas com as suas ovas vieram todas para aqui;
Estão todas de boca aberta, ávidas por escutar.
Nunca nenhum sermão agradara tanto aos peixes!

Lúcios de nariz aguçado, sempre a batalhar,
Nadaram rapidamente para ouvir o Santo!

Até aquele fantasista, que está sempre a jejuar,
Refiro-me ao bacalhau, veio ao sermão!
Nunca nenhum sermão agradara tanto ao bacalhau!

As enguias e os esturjões, tão apreciados pelos nobres,
Eles próprios se dignaram escutar a prédica.

Mesmo os caranguejos e as tartarugas, emissários  lentos,
Subiram depressa do fundo para ouvirem aquelas  palavras!
Nunca nenhum sermão agradara tanto aos caranguejos!

Peixes grandes, peixes pequenos, raros ou vulgares,
Erguem as cabeças como seres pensantes!
Ansiosos por Deus, escutam o sermão!

Acabada a prédica, cada qual se retira!
Os lúcios permanecem ladrões, as enguias a muito amar,
O sermão agradou, mas ficam todos como antes!

Os caranguejos vão embora, os bacalhaus continuam  gordos,
As carpas devoram tudo, o sermão esquece!
O sermão agradou, mas ficam todos como antes!
(Tradução de Maria Fernanda Cidrais. Do programa do recital de 31-10-2006, na Fundação Calouste Gulbenkian. Barítono Matthias Goerne.)