Grelha de verificação (produção de texto escrito)

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Ficha de trabalho sobre o Sermão da Sexagésima

Ficha Informativa - Texto Argumentativo

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protótipos textuais

Existem seis tipos de protótipos textuais:

1. Protótipo textual narrativo Ex: conto, romance, novela
2. Protótipo textual argumentativo Ex: publicidade, debates
3. Protótipo textual descritivo Ex: descrição de uma casa
4. Protótipo textual dialogal-conversacional Ex: conversa telefónica, entrevista
5. Protótipo textual expositivo-explicativo Ex: manuais escolares
6. Protótipo textual injuntivo-instrucional Ex: regras, instruções, avisos, comunicados


De momento, vamos "treinar" a nossa argumentação...


Sermão de Santo António aos Peixes (excerto)


"Mas já que estamos nas covas do mar, antes que saiamos delas, temos lá o irmão polvo, contra o qual têm suas queixas, e grandes, não menos que S. Basílio e Santo Ambrósio. O polvo com aquele seu capelo na cabeça, parece um monge; com aqueles seus raios estendidos, parece uma estrela; com aquele não ter osso nem espinha, parece a mesma brandura, a mesma mansidão. E debaixo desta aparência tão modesta, ou desta hipocrisia tão santa, testemunham constantemente os dois grandes Doutores da Igreja latina e grega, que o dito polvo é o maior traidor do mar. Consiste esta traição do polvo primeiramente em se vestir ou pintar das mesmas cores de todas aquelas cores a que está pegado. As cores, que no camaleão são gala, no polvo são malícia; as figuras, que em Proteu são fábula, no polvo são verdade e artifício. Se está nos limos, faz-se verde; se está na areia, faz-se branco; se está no lodo, faz-se pardo: e se está em alguma pedra, como mais ordinariamente costuma estar, faz-se da cor da mesma pedra. E daqui que sucede? Sucede que outro peixe, inocente da traição, vai passando desacautelado, e o salteador, que está de emboscada dentro do seu próprio engano, lança-lhe os braços de repente, e fá-lo prisioneiro. Fizera mais Judas? Não fizera mais, porque não fez tanto. Judas abraçou a Cristo, mas outros o prenderam; o polvo é o que abraça e mais o que prende. Judas com os braços fez o sinal, e o polvo dos próprios braços faz as cordas. Judas é verdade que foi traidor, mas com lanternas diante; traçou a traição às escuras, mas executou-a muito às claras. O polvo, escurecendo-se a si, tira a vista aos outros, e a primeira traição e roubo que faz, é a luz, para que não distinga as cores. Vê, peixe aleivoso e vil, qual é a tua maldade, pois Judas em tua comparação já é menos traidor!

Oh que excesso tão afrontoso e tão indigno de um elemento tão puro, tão claro e tão cristalino como o da água, espelho natural não só da terra, senão do mesmo céu! Lá disse o Profeta por encarecimento, que «nas nuvens do ar até a água é escura»: Tenebrosa aqua in nubibus aeris. E disse nomeadamente nas nuvens do ar, para atribuir a escuridade ao outro elemento, e não à água; a qual em seu próprio elemento é sempre clara, diáfana e transparente, em que nada se pode ocultar, encobrir nem dissimular. E que neste mesmo elemento se crie, se conserve e se exercite com tanto dano do bem público um monstro tão dissimulado, tão fingido, tão astuto, tão enganoso e tão conhecidamente traidor!

Vejo, peixes, que pelo conhecimento que tendes das terras em que batem os vossas mares, me estais respondendo e convindo, que também nelas há falsidades, enganos, fingimentos, embustes, ciladas e muito maiores e mais perniciosas traições. E sobre o mesmo sujeito que defendeis, também podereis aplicar aos semelhantes outra propriedade muito própria; mas pois vós a calais, eu também a calo. Com grande confusão, porém, vos confesso tudo, e muito mais do que dizeis, pois não o posso negar. Mas ponde os olhos em António, vosso pregador, e vereis nele o mais puro exemplar da candura, da sinceridade e da verdade, onde nunca houve dolo, fingimento ou engano. E sabei também que para haver tudo isto em cada um de nós, bastava antigamente ser português, não era necessário ser santo."

Padre António Vieira, Sermão de Santo António aos Peixes

Os poetas

Encantar-te-ás com os poetas até conheceres um.
Com calças de poeta, camisa de poeta e casaco
de poeta, os poetas dirigem-se ao supermercado.

As pessoas que estão sozinhas telefonam muitas vezes,
por isso, os poetas telefonam muitas vezes. Querem
falar de artigos de jornal, de fotografias ou de postais.

Nunca dês demasiado a um poeta, arrepender-te-ás.
São sempre os últimos a encontrar estacionamento
para o carro, mas quando chove não se molham,

passam entre as gotas de chuva. Não por serem
mágicos, ou serem magros, mas por serem parvos.
A falta de sentido prático dos poetas não tem graça.


José Luís Peixoto (in Gaveta de Papeis)

Do Aquário ao Sermão de "Sermão de Santo António aos Peixes"

"A primeira coisa que me desedifica de vós - peixes - É QUE VÓS VOS COMEIS UNS AOS OUTROS. Não só vos comeis uns aos outros, SENÃO QUE OS GRANDES COMEM OS PEQUENOS. Se fora pelo contrário, era menos mal. Se os pequenos comessem os grandes, bastaria um grande para muitos pequenos; mas, como os grandes comem os pequenos, NÃO BASTAM 100 PEQUENOS, nem 1.000, PARA UM SÓ GRANDE, e, para que vejais que estes comidos na terra são os pequenos, e pelos modos que vós vos comeis no mar...OS HOMENS, COM SUAS MÁS E PERVERSAS COBIÇAS, vêm a ser como os peixes, que se comem uns aos outros...Santo Agostinho, que pregava aos homens, para encarecer a fealdade deste escândalo, mostrou-lho nos peixes; e eu, que prego aos peixes, para que vejais quão feio e abominável é, QUERO QUE O VEJAIS NOS HOMENS. Olhai, peixes, lá do mar para a terra...cuidais que só os tapuias (índios) se comem uns aos outros?. Muito maior açougue é o de cá, MUITO MAIS SE COMEM OS BRANCOS".

Barroco

Contos

Casamento

“Na riqueza e na pobreza, no melhor e no pior, até que a morte vos separe.”
Perfeitamente.
Sempre cumpri o que assinei.
Portanto estrangulei-a e fui-me embora.


Noivado

Estendeu os braços carinhosamente e avançou, de mãos abertas e cheias de ternura.
És tu Ernesto, meu amor?
Não era. Era o Bernardo.
Isso não os impediu de terem muitos meninos e não serem felizes.
É o que faz a miopia.

Mário Henrique-Leiria

Epigrama, de Marcial

Porque te não ofereço os meus livrinhos,
A ti que tantas vezes mos pedes e exiges,
Ficas admirado, Teodoro? A razão é de peso:
Não vás tu oferecer-me os teus livrinhos.

Marcial (século I d.C.)


Casar comigo é o que Paula quer; eu, casar com Paula,
nem pensar: é velha. Quereria — fosse ela mais velha.

Marcial (século I d.C.)

Micronarrativas


Razão

Contra a vontade da mãe, que não augurava nada de bom, ela casou com o homem que amava.
Foram felizes para sempre durante quase duas décadas.
Um dia divorciaram-se.
A mãe disse:
- Viu?

(Rui Zink, Contos de Algibeira)

Desafio de Escrita


Desafio de Escrita

Tenho sempre perto de mim (20 palavras) um espelho grande (12 palavras) solidão (6 palavras)

Tenho sempre perto de mim o meu filho que está em coma profundo há mais de um ano. Sinto-me perdida como se tudo desabasse. Um espelho grande devolve-me o reflexo de tempos felizes passados ao lado dele. Resta-me a solidão deste mundo onde tudo é sombrio. (Bruna e Gabriela)

Tenho sempre perto de mim uma criança com quinze anos, sangue do meu sangue, vida da minha vida, ser do meu ser que é como um espelho grande que me faz lembrar o que fui e o que sou. Sinto solidão quando não tenho esse espelho perto. (Maria João)

Tenho sempre perto de mim os amigos. Não sei andar sozinha na rua, nem estar num espaço vazio. É como se a minha vida fosse um espelho grande e receio olhar-me nesse espelho e ver-me só no fundo receio a solidão que um dia a todos atingirá. (Juliana Monteiro)

Tenho sempre perto de mim aquela tal pessoa que considero essencial que me apoia nos momentos mais complicados. Eu sei que nela posso confiar. É um espelho grande e verdadeiro. Já viveu comigo momentos alegres e difíceis, mas nunca de solidão, essa não existe perto de nós. (Jessica)

Tenho sempre perto de mim ou melhor, à minha frente, algo que me transmite um certo medo e o algo é um espelho grande. Tenho medo de enfrentar a realidade: essa realidade é a solidão que sempre me impediu de sonhar. (Gabriela)


Tenho sempre perto de mim e eternamente comigo um enorme caixão, sete palmos abaixo da terra, imerso no siçêncio da morte que se assemelha a um espelho grande que reflecte o fim que rodeia a minha feia aldeia, arrepiante, outrora solidão mas hoje rejubila de alegria, felicidade. (Tiago)


Tenho sempre perto de mim o que me é essencial, aquilo de que preciso para viver: os meus amigos que me ajudam. Tenho também um espelho grande onde vejo todos os que me rodeiam, pois tudo o que receio é a solidão, esta que invade o meu ser. (Cátia)

Feliz Aniversário, de Clarice Lispector

O conto Feliz Aniversário, da escritora Clarice Lispector, pode ser lido na íntegra aqui.



Sexta-feira à noite, de Emmanuele Bernheim



"Sexta-feira, princípio de uma noite de Inverno. Laura sente-se feliz pois está prestes a deixar o seu apartamento e a sua vida solitária para ir viver com o namorado. Não estava à espera, no entanto, de uma descomunal greve dos transportes e vê-se de repente presa num enorme engarrafamento.
Como vive momentaneamente entre dois domicílios, entre duas “vidas, Laura atravessa um momento de liberdade total, em que de certa maneira tudo lhe é permitido. E assim como se abandona ao lento fluxo do trânsito, do mesmo modo aceita, impensadamente, dar boleia a um homem estranho que lhe surge no caminho. Só que depois dessa noite já nunca mais será a mesma..."

Li este livro nas férias da Páscoa, foi uma leitura que me agradou bastante, apesar de o fim me ter desapontado um pouco.

Autor: Emmanuele Bernheim
Título: Sexta-feira à noite
Editor: Asa

Diário de um Louco, de Gogol


Diário de um Louco, de Gogol

Como em todos os seus contos, predomina também aqui uma mistura de real e de fantasia. Enquanto leitora, este conto trouxe-me alguma "amargura" por estar a assistir ao
sofrimento da personagem. Trata-se de uma história escrita na primeira pessoa, uma vez que é um diário, e onde assistimos ao delírio e fragmentação da identidade do personagem principal.

"Como tem a forma de diário, este é o único livro de ficção do autor escrito na primeira pessoa. O herói, o eterno funcionário miserável de Gógol, assume em Diário de Um Louco, apesar e, talvez, por causa do delírio psicótico em que se refugia, contornos muito humanos e comoventes. Como sempre, a arte gogoliana de misturar o real e o fantástico, o normal e o patológico, o razoável e o delírio, imperam em Diário de Um Louco, a ponto de o leitor se sentir desconfortavelmente a assistir ao sofrimento de um ser humano a quem a identidade se vai estilhaçando com a rapidez e a intensidade de um pequeno conto."

(excerto da introdução, Filipe Guerra)