Senhor Juarroz


Hoje foi dia de teatro...
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FOTO III

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Foto II

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Foto I


As nossas experiências fotográficas...
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Vamos ao teatro?



O Senhor Juarroz de Gonçalo M. Tavares com poemas de Roberto Juarroz

Alguns já leram alguns livros de O Bairro de Gonçalo M. Tavares: O senhor Valéry, O senhor Henri, O senhor Walser, O senhor Bretch, O senhor Juarroz, O senhor Calvino. Uns gostaram, outros estranharam. A companhia Pé de Vento, encenou O Senhor Juarroz, um espectáculo absurdo e surrealista artísticamente inspirado na pintura de René Magritte.

Dia 28 de Fevereiro, pelas 11 h.

Excerto de O SENHOR JUARROZ:

"
O Senhor Juarroz pensou num Deus que, em vez de nunca aparecer, aparecesse, pelo contrário, todos os dias, a toda a hora, a tocar à campainha. Depois de muito meditar sobre esta hipótese o Senhor Juarroz decidiu desligar o quadro da electricidade." Gonçalo M. Tavares.

Fotografias contemporâneas Portuguesas





















Foi a autora deste três trípticos,
Rita Castro Neves, quem nos recebeu no dia 23 de Fevereiro no serviço educativo da Fundação de Serralves.

Fernando Lemos, Helena Almeida, Jorge Molder, Paulo Nozolino, Daniel Blaukfucks, Virgílio Ferreira, João Tabarra, Manuel Santos Maia, Teresa Sá, Paulo Mendes foram alguns dos artistas que ficamos a conhecer um pouco melhor. Além da própria Rita Castro Neves, claro.
em Serralves. A Rita foi a nossa guia, na nossa primeira incursão na fotografia contemporânea portuguesa.

Nos trípticos acima vemos uma paisagem urbana desolada e desconfortável. Uma cidade vazia, abandonada. Uma cidade à espera de um autocarro que pode não mais chegar, de uma farmácia que esteja aberta. Nesta cidade despojada e anónima, os corpos são anónimos e a identidade fluida. É o corpo do homem com um soutien de pensos rápidos, é a jovem com um bigode de algodão, são os músculos de ligaduras. Tudo é medicalizado. A esperança está na individualidade das campainhas, todas diferentes, quem será que se esconde atrás delas?


“Amor é um fogo que arde sem se ver” : numa linhagem clássica


Odi et amo. Quare id faciam, fortasse requiris
Nescio sed fieri sentio et excrucior

Amo e odeio. Como? Perguntais por certo.
Não sei, mas sei que sinto e sei que sofro assim
Catulo


Iuctantur pectusque leve in contraria tendunt
Hac amor hac odium; sed, puto, vincit amor


Lutam e desenham o meu fraco coração em direcções opostas,
ora o amor, ora o ódio; mas penso que ganha o amor
Ovídio

Outra vez amo e não amo,
Estou louco e não estou louco.

Anacreonte

O Amante, de Marguerite Duras, por Jessica



O Amante conta a descoberta do amor e do sexo por uma adolescente, filha de uma família de colonos que vivem numa situação de falência na Indochina francesa, nos anos 30. O amor proibido da menina branca, que ainda não completou 16 anos, e a sua entrega a um jovem chinês rico, dez anos mais velho do que ela, é também uma forma de escapar à claustrofobia a da família.
É a jovem que descobre o poder da sua própria beleza e da sua sexualidade e que , desde o início, domina a relação com ele.


Duras, Marguerite, (trad.: Luísa Costa Gomes e Maria da Piedade Ferreira), O Amante, Difel, 1984

A Relíquia, de Eça de Queirós, por Sandra Sousa


A Relíquia conta-nos a história de Teodorico Raposo. Teodorico vivia com uma velha tia, rica e muito devota. Por influência de um amigo, Dr. Margaride, decide aproximar-se da tia Patrocinio e traçar uma estratégia para herdar a fortuna da velha senhora, mostrando-se, para tal, mostra-se (falsamente) religioso e devoto.
Pede à tia que lhe financie uma viagem a Paris, mas esta recusa-se terminantemente afirmando que Paris era a cidade do vício e da perdição. Teodorico pede, então, para fazer uma peregrinação à Terra Santa. A tia consente e pede que lhe traga uma recordação. Teodoro, na viagem, envolve-se com uma inglesa – Mary – que, como recordação dos momentos que passaram juntos, lhe dá um embrulho com a sua camisa de noite. Chegado à Palestina, Raposo continua a sua vida profana e amoral.
Antes de regressar, Teodorico lembra-se do pedido da tia e corta uns ramos de um arbusto e tece com estes uma coroa, que embrulhou e pôs na sua bagagem.
Entretanto, uma pobre mendiga pede-lhe esmola e ele deu-lhe o embrulho que (pensava ele) continha a camisa de Mary.
Chegado a Lisboa, relata, hipocritamente, à tia todas as penitências e jejuns que fizera durante a peregrinação e oferece-lhe o embrulho, dizendo que este continha a coroa de espinhos. A abertura da suposta relíquia faz-se perante uma imensa audiência de sacerdotes e beatas, num ambiente de ansiedade. Qual o espanto de todos quando, em vez do sagrado objecto, surge a camisa de noite de Mary.


Queirós, Eça de, A Relíquia

O Nariz , de Nikolai Gogol, por Juliana Monteiro


O Nariz é um pequeno conto humorístico de Nikolai Gogol. O conto fala-nos major Kovalióv , um homem, que numa qualquer manhã, acorda e e descobre que seu nariz desapareceu.. Como é uma figura pública importante, decide procurar o seu nariz. Descobre, então, o seu nariz caminhando apressado e vestido com um uniforme bordado a ouro. In terpela-o, mas o nariz ignora-o….

“Ivan Iákovlevitch vestiu, por respeito das conveniências, a casaca por cima da camisa e, sentado-se à mesa, serviu-se de sal, preparou duas cebolas, pegou na faca e, com uma expressão eloquente na cara, pôs-se a cortar o pão. Ao abri-lo ao meio, olhou para o miolo e, surpresa sua, viu algo esbranquiçado. Escavou cuidadosamente com a faca e apalpou com um dedo. "É duro,- disse para si. - Que poderá ser?". Enfiou os dedos e tirou - um nariz!...Caiu das nuvens; esfregou os olhos e começou a apalpar: nariz, nariz de certeza! Ainda por cima de alguém conhecido, parecia-lhe. Desenhou-se o terror no rosto de Ivan Iákovlevitch." (pg. 26)

Gógol, Nikolai, (trad. Filipe Guerra e Nina Guerra) O Nariz, Assírio & Alvim, 2000

CARTA DE AMOR , Jorge Sousa Braga



CARTA DE AMOR (1981)

A Eugénio de Andrade

Um dia destes
vou-te matar
Uma manhã qualquer em que estejas (como de
costume)
a medir o tesão das flores
ali no Jardim de S. Lázaro
um tiro de pistola e ...
Não te vou dar tempo sequer de me fixares o rosto
Podes invocar Safo Cavafy ou S. João da Cruz
todos os poetas celestiais
que ninguém te virá acudir
Comprometidos definitivamente os teus planos de
eternidade
Adeus pois mares de Setembro e dunas de Fão
Um dia destes vou-te matar
Uma certeira bala de pólen
mesmo sobre o coração.

Jorge Sousa Braga


O nascimento de Vénus

(pormenor de O nascimento de Vénus de Sandro Botticelli)

Pele branca: a pele de Vénus é da cor do marfim: um branco com uma tonalidade amarelada e por vezes rósea. A imaculada perfeição do corpo não evoca a pele, mas a superfície de uma estátua.

o cabelo: o cabelo de Vénus desenvolve-se em largas ondas que serpenteiam o corpo, vestindo-o.

ombros estreitos: ao contrário das estátuas antigas, cujos ombros se apresentam na horizontal, os ombros desta Vénus são invulgarmente estreitos e o pesconço é anormalmente longo.

o rosto: trata-se de um rosto muito jovem, com a boca fechada e olhos claros. Apresenta uma expressão de doce melancolia. A delicadeza dos traços sugere uma bondade moral que purifica a deusa pagã.
a postura: a atitude de Vénus inspira-se nas estátuas antigas e, apesar do aparente pudor, com uma mão revela um seio e os cabelos evocam a ideia dos pêlos púbicos, cuja representação estava proibida. O peso está todo para o lado direito o que nos dá uma ideia de leveza. A postura da deusa representa a natureza dual do amor, ao mesmo tempo sensual e casto. Interpretada à luz do neoplatonismo, Vé nus representaria a união de qualidades espirituais e humanas.

(adaptado de
Leer la pintura de LANEIRE-DAGEN, Nadeije,Madrid: Larousse, 2005)

Renascimento


Quase um poema de amor, Miguel Torga

(imagem retirada de o intruso)


Quase um poema de amor

Há muito tempo já que não escrevo um poema
De amor.
E é o que eu sei fazer com mais delicadeza!
A nossa natureza
Lusitana
Tem essa humana
Graça
Feiticeira
De tornar de cristal
A mais sentimental
E baça
Bebedeira.

Mas ou seja que vou envelhecendo
E ninguém me deseje apaixonado,
Ou que a antiga paixão
Me mantenha calado
O coração
Num íntimo pudor,
Há muito tempo já que não escrevo um poema
De amor

Miguel Torga

Neste poema de Torga, o sujeito poético fala-nos daquilo que ele melhor sabe fazer: poemas de amor. No entanto, à medida que vai envelhecendo
ninguém o "deseja apaixonado" e o "pudor", a vergonha, fazem com que ele cada vez menos se consiga expor. O amor torna-nos mais confiantes, mas o sujeito poético tem medo se parecer ridículo quando agora fala de amor.

Jessica

Uma Aprendizagem ou o livro dos prazeres, de Clarice Lispector


Uma Aprendizagem ou o livro dos prazeres, de Clarice Lispector

A escrita e a estrutura deste livro, a princípio, estranha-se, pois rompe com as convenções a que estamos habituados (o livro começa com uma vírgula).
Trata-se da história de Ulisses, professor de filosofia, e Loreley, uma professora do ensino primário. Embora estejam unidos por uma forte paixão, decidem assumir um compromisso apenas quando estiverem preparados para tal. Uma Aprendizagem ou o livro dos prazeres é um romance de aprendizagem, no qual Lorely é ensinada por Ulisses a dar um maior valor à vida, a amar, a a ultrapassar a ausência e o silêncio.

Juliana Monteiro

Romulus e o outro

O Ensaio de um Eros Possível, sexta-feira, 21.30, Teatro Carlos Alberto

Eram, na rua, passos de mulher. (D M F)



Eram, na rua, passos de mulher.
Era o meu coração que os soletrava.
Era, na jarra, além do malmequer,
espectral o espinho de uma rosa brava...

Era, no copo, além do gin, o gelo;
além do gelo, a roda de limão...
Era a mão de ninguém no meu cabelo.
Era a noite mais quente deste verão.

Era no gira-discos, o Martírio
de São Sebastião, de Debussy...
Era, na jarra, de repente um lírio!
Era a certeza de ficar sem ti.

Era o ladrar dos cães na vizinhança
era, na sombra, um choro de criança...

David Mourão-Ferreira

Max Ernest / Paula Rego

Esta é a perversão da iconografia católica é a pintura favorita de Paula Rego.

"A Virgem Espancando o Menino Jesus Diante de Três Testemunhas - A. B., P. E. e o Artista" (Max Ernst)


A. B. e P. E. são as iniciais de André Breton e Paul Eluard. Este quadro, de 1928, levou Max Ernst a ser denunciado como blasfemo, fazendo com que sua exposição fosse fechada. Nessa mesma época, um jesuíta chamado Ernest Gengenbach acusou o surrealismo de promover "a liberação da alma subconsciente, de tudo o que é reprimido, sonhos perigosos, instintos monstruosos, desejos demoníacos".

Este quadro é uma variação do tema clássico: Vénus castigando Cupido.

Algo

Ao longo dos anos a mulher tem sido vista mais como um objecto do que como uma pessoa: Um algo e não um alguém. (Rui Filipe a propósito de "Minha senhora de quê" de Ana Luísa Amaral).

MINHA SENHORA DE QUÊ

dona de quê
se na paisagem onde se projectam
pequenas asas deslumbrantes folhas
nem eu me projectei
se os versos apressados
me nascem sempre urgentes:
trabalhos de permeio refeições
doendo a consciência inusitada
dona de mim nem sou
se sintaxes trocadas
o mais das vezes nem minha intenção
se sentidos diversos ocultados
nem do oculto nascem
(poética do Hades quem me dera!)
Dona de nada senhora nem
de mim: imitações de medo
os meus infernos

(Ana Luísa Amaral)