Quase um poema de amor, Miguel Torga

(imagem retirada de o intruso)


Quase um poema de amor

Há muito tempo já que não escrevo um poema
De amor.
E é o que eu sei fazer com mais delicadeza!
A nossa natureza
Lusitana
Tem essa humana
Graça
Feiticeira
De tornar de cristal
A mais sentimental
E baça
Bebedeira.

Mas ou seja que vou envelhecendo
E ninguém me deseje apaixonado,
Ou que a antiga paixão
Me mantenha calado
O coração
Num íntimo pudor,
Há muito tempo já que não escrevo um poema
De amor

Miguel Torga

Neste poema de Torga, o sujeito poético fala-nos daquilo que ele melhor sabe fazer: poemas de amor. No entanto, à medida que vai envelhecendo
ninguém o "deseja apaixonado" e o "pudor", a vergonha, fazem com que ele cada vez menos se consiga expor. O amor torna-nos mais confiantes, mas o sujeito poético tem medo se parecer ridículo quando agora fala de amor.

Jessica

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