Farsa de Inês Pereira



A Farsa de Inês Pereira, de Gil Vicente, dito pai do teatro português, datada do séc. XVI versa sobre as relações amorosas e sobre a forma como a mulher é, ou melhor, era, tratada. Neste texto dramático, Gil Vicente criou um enredo onde a mulher assume um papel preponderante. 
Na corte duvidava-se da originalidade de suas obras, por isso, e a fim de provar que merecia a fama que tinha, desenvolveu uma intriga a partir do mote popular “Antes asno que me leve, que cavalo que me derrube”. É com base neste dito que é contada a história de Inês Pereira, rapariga idealista, sonhadora que, depois de ver os seus sonhos desfeitos, adopta uma postura mais pragmática na vida. A novidade desta peça, em nosso entender, prende-se com o facto de a mulher ser apresentada como emancipada. Inês escolhe o seu destino, sem dar ouvidos à mãe, voz da razão, nem à alcoviteira. Porém, mesmo depois do casamento se ter tornado uma decepção, volta a arriscar. No entanto, desta vez Inês não se deixa ludibriar e, para não ser enganada, escolhe um marido “asno”. Consideramos que Gil Vicente ousou, ao não penalizar Inês Pereira pelos seus actos, afinal a sua conduta imprópria foi recompensada e ilustrada pelo provérbio: “Antes asno que me leve, que cavalo que me derrube”. Assim, esta pérola vicentina pode ser considerada uma obra feminista avant la lettre.