Bolor, de Augusto Abelaira


"- Por que casaste comigo em vez de casar com outra? Porque me escolheste a mim como imagem da vida quotidiana, ponto de referência em relação ao qual uma diferente vida é possível –vida, parêntesis, na realidade inútil de todos os dias? Porque me sacrificaste ao casares comigo, em vez de casares com outra ?Outra, portanto, o ponto de referência em relação ao qual eu seria agora o parêntesis, o sonho...? – Pausa. – Porque casei contigo? Porque te sacrifiquei ao casar-me contigo, tu, que se eu não tivesse casado contigo serias o parêntesis, o sonho, a imagem da beleza nesta vida? – Pausa. – Embora, bem sei, nada disso tivesse importância, embora tudo continuasse igualmente errado? (Bolor, Augusto Abelaira)"


BOLOR - Augusto Abelaira

Bolor (1968) é um romance fragmentado. A tipologia diarística foi a forma adoptada pelo autor para nos
dar a conhecer, primeiro, Humberto e depois Maria dos Remédios. Humberto, casado com Maria dos Remédios, vai falando de si e estabelecendo, no diário comparações entre a mulher, Maria dos Remédios, e Catarina. Catarina, já falecida, havia sido a sua primeira mulher e paira quase como um fantasma entre os dois. Maria dos Remédios descobre o diário e passa a escrever nele, fazendo revelações que de outra forma seriam escondidas. O diário passa a ser o espaço onde se revelam um ao outro, confessando que o casamento está a matar o amor. Humberto diz mesmo que o casamento é a morte da experiência amorosa.


"Talvez Bolor seja uma das obras de Augusto Abelaira que melhor sintetize asinquietações da sociedade burguesa ocidental. Representando os comportamentos do indivíduo da era pós-industrial, o autor abre espaço para a reflexão sobre a vida como é vivida na sociedade individualista. Desse modo, podemos observar a atitude de compromisso social adotada pelo escritor, que iniciou sua obra dentro da estética neo-realista. Assim, a obra espelha o esfacelamento das relações (im)pessoais e o conseqüente vazio que tal desintegração gera, situação que faz com que as personagens procurem algo exterior parapreencher esse vazio." (Edimara Luciana Sartori)

O Bolor foi lido pelo Tiago.
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