"A dedicação absoluta da freira de Cartas torna-a invulgar, quase única e, quem sabe, inspiradora do estereótipo que a literatura romântica, sobretudo na sua vertente gótica, tanto usou . Por outro lado, havia enorme competição na disputa dos favores das freiras, e eram os pretendentes quase sempre os sofredores, devido à rejeição, ao desdém e às exigências das únicas mulheres que podiam ser coquettes em Portugal, embora de forma oculta. A paixão única e imortal desta freira distancia-a do comportamento padrão das suas companheiras Tal como os amantes, elas viviam o amor enquanto ludus , jogo de sedução, ao passo que Mariana ter-se-á apaixonado perdidamente, sendo o seu amor o resultado de eros , na fase de encantamento, e de mania , na fase de abandono . Ao serem divulgadas estas cartas como as de uma qualquer freira portuguesa e quando não eram do conhecimento do público outros escritos freiráticos muito menos românticos, a situação que alicerçará a imagem do amor português no estrangeiro será a da freira apaixonada que escreve cartas de amor desesperado." [...]
"Concluindo: tanto a ‘coita de amor’ das cantigas medievais quanto o ‘amor ardente’ de Camões estão presentes em Lettres Portugaises. O deleite no sofrimento e a queimadura nas cinzas da paixão não são novas, mas antes exacerbadas. A estes juntou a freira portuguesa o desespero da perda e a redenção através da morte para o mundo , que tão bem vão depois caracterizar o ‘amar perdidamente’ daquela que se assumiu como ‘Soror Saudade’, Florbela Espanca . Esta forma absoluta de amar dos portugueses vai entrar em choque com as regras sociais do seu país, produzindo a saudade, a tragédia e o fado." (Mariana Alcoforado e o ‘ Amor Português’ na Ficção Actual em Língua Inglesa, Luísa Alves)
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