A Origem do Mundo | Courbet & Jorge Sousa Braga


A Origem do Mundo, Gustave Courbet


A Origem do Mundo

Uma mulher deitada de costas
As pernas abertas a vulva exposta

Em primeiro plano entre as coxas
Roliças e as nádegas espalmadas

Os pêlos do púbis densos como escamas
Como linha do horizonte as suas mamas

Jorge Sousa Braga, A Ferida Aberta

"A história deste quadro dava um filme. Depois de o diplomata otomano, Khalil-Bey, o ter recebido de Courbet e o ter acrescentado à sua colecção no seu palácio nz Boulevard Haussman – onde, ao que dizem, apenas o mostrava aos seus amigos e visitantes mais íntimos –, o quadro desapareceu na dispersão que se seguiu à ruína de Khalil-Bey, em 1868, tendo certamente servido para pagar algumas das suas dívidas. Sabe-se que A origem do mundo esteve guardado durante vários anos no castelo de Blonay. Em 1913, reaparece numa galeria de Paris, onde é adquirido por um barão húngaro, François Hatvany, coleccionador de arte, que o leva para o seu palácio de Budapeste. Volta a desaparecer no tumulto da segunda guerra mundial. E volta a ressurgir, de novo na capital francesa, nos anos 50, indo parar às mãos de Sylvia Bataille, primeira mulher de Georges Bataille (autor do livro O Erotismo), depois casada com o psicanalista Jacques Lacan, e actriz-protagonista do filme de Jean Renoir, La Partie de Campagne (1936). O casal Lacan manteve a tela guardada na sua casa de campo ao longo de décadas e um familiar de Sylvia decidiu dissimular a crueza da sua representação sobrepondo-lhe, numa porta de correr, de madeira, o desenho de uma paisagem chinesa – era uma espécie de jogo e desafio para os observadores mais voyeuristas; e era também, num certo sentido, a materialização da teoria de Bataille, que dizia que o erotismo está não naquilo que se mostra, mas naquilo que se esconde. Depois da morte de Sylvia Bataille, a obra foi doada ao Estado francês, que o recuperou e depositou no Museu d’Orsay." (lê o texto completo aqui)

"Esta tela surge assim como um manifesto contra o academismo mas também contra a falsidade vigente na Arte e na Sociedade oitocentista. Representa a libertação definitiva do artista de todos os estereótipos! Significativo é o facto da polémica se ficar a dever ao tema e à forma como foi abordado e não às qualidades pictóricas do quadro - se estava bem pintado ou não. A Origem do Mundo foi uma obra inspirada, visionária talvez, um acto estético da maior importância e uma obra de arte de primeira grandeza. A Pintura Moderna talvez tenha começado aqui, com origem no sexo de uma mulher." (continua aqui)

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