Dois poemas de Miguel-Manso

(Herbert Bayer)
Proscénio

o poema é antes de tudo
um palco para gestos simples
eu rego as flores em Junho


***
O fogo, a cidade

às vezes
sobre as palavras pesa um dia luminoso, a clara
imprecisão do gesto
o corpo inclina-se para a água
do poema

a roupa estas mãos o torpor da casa
quando o silêncio a morna demorosa voz
se desfazem no ritmo entontecido
do mundo

caminho descalço sobre a página
olho uma outra vez
voltando-me para trás
o fogo, a cidade

Miguel-Manso, Quando escreve descalça-se

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