SCANDALOS
Fallava-lhe ella assim:
— “Não sei [porque me odeia,
“Não sei porque despreza a luz dos meus olhares,
“Se o adoro com fervor, se não me julgo feia,
“E o meu olhar eguala as chammas singulares
“Do incendio de Pompeia! “Instiga-me o aguilhão do vicio fatigante,
“E crava-me o capricho os vigorosos dentes;
“Não quero o doce amor platonico do Dante
“E sinto vir a febre e as pulsações frequentes
“Ao vel-o, ó meu amante! “As ancias, as paixões, os fogos, os
ardores, “Allucinada e louca, eu vejo que
abomina, “E ignoro com que fim, em tempos
anteriores, “Enchia-me de gosto a bôca purpurina,
“E o seio de calores!” E elle ao vel-a excitante, hysterica, exaltada, Volveu lhe glacial, britannico, insolente:
— “A tua exaltação decerto não me [agrada, “E, ó minha libertina! eu quero-te somente
“Para mecher salada!”
Lisboa, agosto, 1874
Nenhum comentário:
Postar um comentário