É o Memorial do Convento difícil?

É o Memorial do Convento difícil?


"O especialista em Estudos Portugueses e coordenador dos novos programas de Português do 1.º, 2.º e 3.º ciclos do ensino básico, Carlos Reis, até elogia a selecção dos textos na prova de Português realizada ontem na 2.ª fase: um poema de Ricardo Reis; uma pergunta que testava o que tinham os alunos aprendido com a leitura do Memorial do Convento, de José Saramago, um excerto da Ética para Um Jovem, de Fernando Savater, uma citação de Dicionário Imperfeito, de Agustina Bessa-Luís.

Contudo, confessa: "Não sou defensor do Memorial do Convento como obra de leitura integral neste nível de ensino [12º ano]. Parece-me uma obra de linguagem demasiado complexa." Não quer dizer, sublinha, que Saramago não devesse fazer parte do programa. Mas outro romance seria mais adequado, acredita. Nos últimos cinco anos, Sttau Monteiro e Fernando Pessoa e os seus heterónimos foram os autores mais vezes escolhidos para o texto principal dos exames do 12.º ano. Marcaram presença cinco vezes, num total de 12 provas analisadas. José Saramago, com o Memorial do Convento, e Camões empatam com duas presenças cada. " (notícia do Público)

A leitura não é uma processo "simplex": implica a capacidade de construir e inferir sentidos. Envolve processos de percepção,de memória, de inferência, de reconhecimento. Nesse sentido o Memorial do Convento é um excelente romance a ser lido no ensino Secundário.

O busílis não é o Memorial do Convento, a Aparição, A Sibila, Uma Abelha na chuva ou qualquer outra obra indicada no programa actual ou do de antanho.

O verdadeiro problema está na falta de leitura, na não leitura desta ou qualquer outra obra sugerida, na resistência a "ler". Ler implica esforço, implica mobilizar conecimentos anteriores, questionar o texto. O leitor vai-se fazendo pelas diferentes experiências estéticas de que usufruí, no entanto, a leitura séria é substituída, muitas vezes, pelo equívoco. Em vez da obra lêem-se / estudam-se / memorizam-se resumos, esquemas, opiniões cristalizadas de outros, o que impossibilita a construção do conhecimento. Isto não é ler.



Se se está a falar de cânone e da forma como o currículo escolar o enforma, o asssunto é outro....

Sobre O Memorial do Convento aqui

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