O rio deve ir dar ao mar | Adília Lopes


O rio deve ir dar ao mar
mas a vida não deve dar toda
em poema
o poeta é aquele que mata
duas vezes
o mesmo coelho
o coelho comido
é o coelho escrito
o salto do coelho não lhe basta
precisa de caçar
duas vezes
o coelho
come o coelho
com uma infusão de tília
e regressa ao futuro
a lembrar Chardin
e a tia Idalina
mas que o sangue do coelho
não manche o espólio do poeta
o coelho sentido foi comido
o coelho fingido és tu
e assim no comboio eléctrico
do meu irmão João
anda laparoto
a múmia
isto é a minha vida
isto é um conto de Lucy Ellmann
mas o caçador
abstém-se de caçar o coelho
e deixa de haver literatura
beijo-te as as orelhinhas encaroçadas, Rabujo

Adília Lopes

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