"Os fantasmas não sujam nem desarrumam nem deixam marcas. Da porta ao fundo da sala de estar, talvez 100 metros quadrados, tudo está impecável. No hall de entrada estão perfeitamente arrumadas as fotografias e as flores; o telefone, uma caneta e o bloco de post-its com o nome do casal Didion/Dunne estão alinhados sobre uma pequena mesa. A história está à vista e o que se vê é o que é, a história já não vai mudar. É a casa de toda-uma-vida ainda que ela não tenha vivido aqui toda a vida. Mas as memórias de toda-uma-vida estão nas paredes – nas fotografias ampliadas e assinadas ou nas fotografias mais modestas do marido e da filha e dos três juntos –, estão nas mobílias e estão em todos os gestos que não chegam para encher uma casa vazia. Viver em Manhattan é um sonho. Viver no Upper East Side é um sonho dentro do sonho. A casa é de sonho e de uma elegância que tem pouco a ver com a vulgaridade das lojas de estilistas nos passeios lá em baixo (Yves Saint Laurent e Tom Ford as mais próximas). O sonho é aquilo que fica, mesmo se já não estão as pessoas que o sonham."
Susana Moreira Marques
Excerto de “Quem é Joan Didion”. In O Ano do Pensamento Mágico: [Programa]. Lisboa: Teatro Nacional D. Maria II, 2009. p. 11. (daqui)
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