"Todos os anos, mulheres que vivem lá para o sul, ao pé do mar, atravessam as serras e espalham-se pela planície, para a monda e para o trabalho dos arrozais.
Trazem cantigas alegres e falas rumorosas, e o povo das vilas junta-se nos largos para as ver passar a caminho das herdades. E, nos primeiros dias da faina, à hora a que o manajeiro tem as palavras mais desejadas para os que andam curvados entre as espigas ou enterrados no lodo das várzeas, quando o sol desaparece e cigarras e ralos arrastam um traquinar que se perde pelos longes, as mulheres de ao pé do mar cantam coisas novas e coloridas.
Em volta do lume, malteses e ganhões calam as vozes pesadas e ficam-se a ouvi-las, com os olhos parados na noite, pensando nas terras da beira-mar, lá donde elas vieram. Que as cantigas das moças do sul têm o brilho das águas e a vivacidade das ondas. E as suas gargalhadas são naturais como um pincho de água trespassado de sol, saltando numa rocha. Elas trazem a frescura do mar para a charneca desolada." Manuel da Fonseca
Maria Altinha
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