Os cinco sentidos, Relações Intertextuais



Jogo

Eu, sabendo que te amo,
e como as coisas do amor são difíceis,
preparo em silêncio a mesa
do jogo, estendo as peças
sobre o tabuleiro, disponho os lugares
necessários para que tudo
comece: as cadeiras
uma em frente da outra, embora saiba
que as mãos não se podem tocar,
e que para além das dificuldades,
hesitações, recuos
ou avanços possíveis, só os olhos
transportam, talvez, uma hipótese
de entendimento. É então que chegas,
e como se um vento do norte
entrasse por uma janela aberta,
o jogo inteiro voa pelos ares,
o frio enche-te os olhos de lágrimas,
e empurras-me para dentro, onde
o fogo consome o que resta
do nosso quebra-cabeças.

Nuno Júdice




3 comentários:

Jamil P. disse...

E quem ganha esse jogo?

paula cruz disse...

Neste jogo às vezes perder é ganhar:
"É cuidar que se ganha em se perder".

Jamil P. disse...

Verdade. Camões com um olho só enxergava mais que a gente.