Nada garante que tu existas.
Não acredito que tu existas.
Só necessito que tu existas.”
Não acredito que tu existas.
Só necessito que tu existas.”
David Mourão-Ferreira
Nesta composição lírica existe uma aparente contradição, uma vez que eu poético não sabe e não acredita que um “tu”, como ele idealiza, existe de facto, no entanto (e paradoxalmente), demonstra uma absoluta necessidade desse outro “eu”. É o outro que lhe dá (ou ajudará a dar sentido) e isto tanto é válido para um poema de amor, como para a relação entre autor e leitor: o texto precisa de um tu que lhe dê sentido.
Podemos ainda acrescentar o facto de o poema manter sempre o mesmo término dos versos (“que tu existas”), tornando-se repetitivo e mostrando mais uma vez, essa necessidade imperiosa. O sujeito lírico contradiz-se, visto que, demonstra nos dois primeiros versos uma certa indiferença e até um aparente desinteresse em relação a essa pessoa., porém, no último verso percebemos a dependência em relação a esse “tu”.Esta composição poética é bastante sucinta e para nós, leitores, é um mistério descortinar quem é o destinatário deste poema.
Filipa Miguel
Neste pequeno e curioso poema da autoria de David Mourão-Ferreira podemos destacar vários aspectos interessantes. O que nos chamas mais à atenção é a contradição do sujeito lírico ao dizer que necessita de uma pessoa, mas não garante e nem sequer acredita que ela exista. Há uma grande complexidade subjacente a este texto, porém creio que estamos perante a idealização de um “tu”. Mesmo sem a palavra “amor”, este é, sem dúvida, um poema de amor: há uma procura de um ideal que ajudará a dar sentido à sua existência.
A composição lírica encerra um paradoxo entre o que sabe ser verdade – a necessidade do outro – e a incerteza da sua existência.
A composição lírica encerra um paradoxo entre o que sabe ser verdade – a necessidade do outro – e a incerteza da sua existência.
Raquel Serafim
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