Russell Edson na Comunidade de Leitores


Tudo começou pela imagem, pelo cinzentismo pelo cigarro que se adivinha, pelo ar tão normal...  e depois vieram os textos (poemas como  o autor prefere)....
A Filipa escolheu  "Um homem que escreve" e "O livro branco" , o Tiago escolheu "Uma Máquina"; a Joana "O Outono", a Raquel  "O livro branco".  Rui Manuel Amaral (muito, muito obrigada, uma vez mais) conduziu a conversa e já temos autor para Janeiro: Robert Walser...
E em todos ficou a vontade de, como em "O Livro Branco", criar um endereço fictício.



UMA MÁQUINA
Um homem construíra uma máquina... Que faz o quê? Disse o seu pai.
Que fica vermelha com a ferrugem se chover, não te parece, pai?
Mas uma máquina é o que rouba o trabalho a um homem, disse o pai, e o trabalho é oração, logo a máquina é um pecado.
Mas a máquina também pode ser amorosa, cultivando teias de aranha entre as rodas onde rastejam pequenas patas negras; e logo as ervas aparecem entre as engrenagens - E os seus raios adornados com borboletas...
Não gosto da máquina, mesmo se é amável, pois pode ainda decidir amar a minha mulher e apanhar o meu transporte para o trabalho, disse o pai.
Não não pai, é uma máquina voadora.
Bom, supõe que a máquina faz ninho no telhado e tem filhos máquinas? disse o pai.
Pai, se quisesses olhar para a máquina apenas umas horas irias aprender a amá-la, talvez até a dedicar-lhe a própria vida.
Eu não faria tal coisa, pelo menos com a tua mãe a ver, cata¬logando as minhas infidelidades para me confrontar com elas na cama... Talvez eu conseguisse simpatizar com esta humilde obra de ferro, pois que já me sinto motivado a assegurar-lhe que existe um Deus, sim, até para ti, querida mdquina paciente. Mas a tua mãe vigia. Até a minha mãe vigia. Todas as mulheres da casa observam pelas janelas, esperando para ver o que farei . [Russell Edson]

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