Centenário de Manuel da Fonseca



Antes que Seja Tarde


Amigo, 
tu que choras uma angústia qualquer 
e falas de coisas mansas como o luar 
e paradas 
como as águas de um lago adormecido, 
acorda! 
Deixa de vez 
as margens do regato solitário 
onde te miras 
como se fosses a tua namorada. 
Abandona o jardim sem flores 
desse país inventado 
onde tu és o único habitante. 
Deixa os desejos sem rumo 
de barco ao deus-dará 
e esse ar de renúncia 
às coisas do mundo. 
Acorda, amigo, 
liberta-te dessa paz podre de milagre 
que existe 
apenas na tua imaginação. 
Abre os olhos e olha, 
abre os braços e luta! 
Amigo, 
antes da morte vir 
nasce de vez para a vida. 


Manuel da Fonseca, in "Poemas Dispersos"



Biografia aqui.
Um dos principais autores do Neo–Realismo português. Em Lisboa se radicara desde a época dos estudos secundários, depois dos quais frequentou, por algum tempo, a Escola de Belas – Artes.
Destacou-se como poeta, contista e romancista. Publicou Rosa dosVentos ( poesia, 1940), Planície
(poesia, 1941, na colecção Novo Cancioneiro, de Coimbra), Aldeia Nova (contos, 1942), Cerro – Maior (romance, 1943), O Fogo e as Cinzas (contos, 1951), Seara de Vento(romance, 1958), Poemas Completos (1958), Um Anjo no Trapézio(contos,1968), Templo de Solidão (contos, 1973), além de um volume de crónicas ( Crónicas Algarvias, 1986) e de uma Antologia de Fialho d´Almeida (1984). Reelaborou alguns de seus textos mais de uma vez, dando-lhes forma definitiva para a Obra Completa.
[In: Biblos - Enciclopédia Verbo das Literaturas de Língua portuguesa – 1995]

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