Areia - Lado C por Rui Filipe

O conto AREIA de Paulo Kellerman foi escrito a partir de duas perspectivas: Lado A e Lado B. A proposta foi escrever de um outro ponto de vista: o feminino. Esta é versão do Rui Filipe:







Nós andamos, à beira mar, na praia que já fiz crescer, sorris não percebo porquê, tento fazer com que fales, mas estás em silêncio, como se me quisesses dizer alguma coisa, mas receasses que fosse constrangedor. Ao longe vejo alguém, sentado num rochedo, a olhar o mar. Tu pareces um pouco aborrecido. Continuamos. Eu falo-te da primeira vez que estive nesta praia, enquanto ainda era adolescente.
Vejo agora quem está nos rochedos: é um homem, um dos homens que eu trouxe para esta mesma praia, seguimos, olho-o, vejo-o, observo-o.
Pergunto-lhe como está, ele murmura palavras que não ouço, no entanto, entendo, percebo cada palavra que esconde, minto, digo que parece estar bem. Perguntas-me quem era, penso que quero, penso que não devo, penso que devo entendo que queiras saber, mas espero que não entendas, porque não o faço.
Beijo-te, abraço-te, acaricio-te, fecho os olhos, tu gritas, sinto o sol bater-me na cara e o mar molhar-me os pés, este, fecha-se numa onda que nos une ainda mais, algo estranho acontece, deixo de sentir o Sol aquecer-me a cara, abro os olhos e vejo-o. Nos olhos dele, vejo ódio, de braços estendidos no ar segurando, fortemente um pedaço de madeira, ele desce os braços com força, acerdando-te, eu grito-te, ele repete atingindo-te com muita força. Ele avança para o mar, perco-o de vista. Pergunto-me se estás vivo.

Rui Filipe, nº14, 10ºD