Areia - Lado C por Juliana Monteiro


Caminhamos lentamente pela praia. Enquanto eu falava, tu simplesmente ouvias-me, apesar de parecer que querias dizer qualquer coisa, algo que querias e não querias revelar.
Eu recordava alegremente a primeira vez que tinha estado naquela praia. Recordava o passado, até que o passado se tornou presente. Avistei-o ao longe, sentado numa rocha. Era como se me conseguisse ler o seu pensamento. Entender a sua dor. Ao aproximarmo-nos, disse-lhe, naturalmente, que estava com bom aspecto e que era bom revê-lo, mas aquilo perturbou-me, interferiu com o meu íntimo, tirou-me a serenidade. Algo me preocupava. Soltei uma gargalhada e voltei ao presente, à nossa conversa… e vi-o novamente. Dirigia-se a nós, mas com uma calma assustadora. Na mão trazia uma tábua de madeira. Aproximou-se. Soltei um grito. Estava apavorada e com ódio dele. Como podia ser capaz.
Vendo-o deitado sobre aqueles grãos de areia, afastou-se, deixando-me a sós com a dor com a culpa
.


Juliana Monteiro, nº 10 D