O Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores (APE) foi atribuído ao livro «Entre dois rios e outras noites», de Ana Luísa Amaral.
se tudo fosse só êxtase súbito
(7 andamentos)
(7 andamentos)
Duas linhas de amor:
a minha escrita
a falhar contra o vento
E na sala a espreitar,
fantasma súbito
real ou tanto,
como o que espreita o sono
desta sala
A minha escrita não ilude essas formas,
não as alteia em conjugações simples:
só as repete e sobra:
antes de tudo,
igual a tudo,
quantos fantasmas mais
E as poucas vezes que te permito
são vezes frágeis,
são vezes de papel
Se tudo fosse só êxtase súbito,
o papel intocável e intacto,
como o meu espaço e tu entrando devagar,
as portas que te abri
abrindo para a luz
Se tudo fosse só papel de prendas,
laços e colorido,
a festa do meu espaço
– e de ti no meu espaço –
as coisas consonantes
Duas linhas de amor,
a minha escrita
a falhar contra o vento
Antes de tudo, igual a tudo,
os fantasmas persistem,
sonolentos
Noite após noite,
abandonam o quarto em acalmia
e trocam de vestido
Põem de lado o branco
o sol,
e de negro enfeitados
para na noite
de novo proceder ao massacre
Até à madrugada,
quando o sono: mais forte
e esse lado do espelho
os acolhe outra vez
VII
A lua outra vez lua a adormecer
serena, duas linhas
de amor, não sou
capaz de mais: não eras tu,
mas eu que não te achava
na confusão de tanto nomear
E o teu nome ficou,
as tuas mãos, os braços verdadeiros,
condenados a folhas de resguardo:
pendentes sobre mim
duas espadas
Como duas tendências
de voar –
(ver a recensão crítiica de Rosa Maria Martelo aqui)
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