"As Meninas de Paula Rego estão nesta situação. Em todas as atitudes anunciam servilismo, mas estão a comemorar um estado de alma que não é propriamente poético ou idílico. Em 1988, data da morte do marido, Paula pinta A Família. O homem está praticamente imobilizado como por efeito dum jogo corpo-a-corpo que parece a aplicação dum castigo. Um pouco afastada, uma menina olha a cena assustada e juntando as mãos de maneira talvez aflitiva. Num pequeno guignol vemos S. Jorge a matar o dragão, salvando Angélica de ser devorada. Angélica, no cimo do seu rochedo, parece ter envelhecido enquanto esperava ser libertada. No estudo para A Família há uma espécie de S. Cristovão que carrega a criança. Como nos sonhos, a figura do homem é muitas vezes um travesti e é uma mulher. Paula descreve A Família como uma combinação de luta e heroicidade. A sombra da menina projecta-se no chão e parece assustá-la mais do que a cena que se desenrola no quarto. Trata-se de uma brincadeira ou dum crime?" (As Meninas, de Paula Rego (pinturas) e Agustina Bessa-Luís (textos), 2ª ed., Lisboa, Guerra e Paz Editores, 2008. pg. 34)
"No quadro A Família, que sugere uma intrincada sequência de relações entre os vários elementos, articulada por uma série de imagens unificada por uma narrativa (semelhante, na sua estrutura, ao quadro anteriormente citado). Neste, trata-se da relação da mulher e dos filhos com o homem e a situação reveste-se de uma ambiguidade perturbante, não deixando perceber se a família ajuda ou ameaça o homem. A sua pose e passividade permitem pensá-lo como um Lázaro, enquanto outros elementos do quadro sugerem uma ambiguidade e uma indecibilidade latentes e actuantes num duplo registo: no oratório português, ao fundo, S.Jorge mata o dragão e na sua base, uma garça-real, tanto pode estar a alimentar como a atacar uma raposa." (daqui)
"No quadro A Família, que sugere uma intrincada sequência de relações entre os vários elementos, articulada por uma série de imagens unificada por uma narrativa (semelhante, na sua estrutura, ao quadro anteriormente citado). Neste, trata-se da relação da mulher e dos filhos com o homem e a situação reveste-se de uma ambiguidade perturbante, não deixando perceber se a família ajuda ou ameaça o homem. A sua pose e passividade permitem pensá-lo como um Lázaro, enquanto outros elementos do quadro sugerem uma ambiguidade e uma indecibilidade latentes e actuantes num duplo registo: no oratório português, ao fundo, S.Jorge mata o dragão e na sua base, uma garça-real, tanto pode estar a alimentar como a atacar uma raposa." (daqui)
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