A igreja dos Clérigos é pois a obra fundamental de Nasoni ― e fundamental o é também para a arquitectura barroca. Iniciada em 1732, resulta da decisão de uma assembleia (1731) da Irmandade com o mesmo nome constituída em 1707 e que desejava sede condigna. Na reunião de 31 o projecto é apresentado e logo aprovado sendo então presidente da Irmandade o Deão Jerónimo de Távora e Noronha, protector permanente de Nasoni.
A nóvel igreja seria construída em local extra-muros da cidade, confirmando a apropriação de novos espaços feita pela arquitectura barroca, funcionando simultaneamente como pólos dinamizadores do crescimento urbano. É por isso intencional o aproveitamento de um sítio elevado donde a igreja pudesse irradiar o seu poder visual, prestigiando a Irmandade e a própria cidade. Esta terá compreendido a importância decisiva da obra pois comemora comluminárias (concebidas por Nasoni) e cortejo em que se incorporam as principais forças sociais da cidade, a abertura dos trabalhos.O ritmo das obras não é constante, como resultante de intrigas movidas pelo Clero da igreja de St.° Ildefonso, que receava a concorrência da nova igreja. (…)
Por sobre todas as vicissitudes o Porto tinha finalmente a sua igreja barroca, a que melhor define a renovação empreendida no período joanino. A fachada principal, com os seus dois pisos, definia-se intencionalmente na vertical, assumindo a importância de que se revestia. Às proporções juntava-se um vocabulário decorativo com exuberantes formas “gordas”, uma cenografia trabalhosa que suscitava a empatia do espectador. É “uma vasta pintura cenográfica” traduzida espectacularmente em arquitectura: painéis com florões, cascas, panejamentos, grinaldas, festões, uma tríplice coroa papal sobre almofada, estátuas de S. Pedro e S. Filipe Néri… Era encimada por um frontão de linhas ziguezagueantes, com pilastras terminais e uma cruz central reforçando o jogo ascensional. Era a apoteose dramática do pintor-decorador-arquitecto Nicolao Nasoni que assim moldava definitivamente a fisionomia da cidade. A clientela clerical do artista aceitava com entusiasmo o imaginário lírico do artista que meritoriamente harmonizava a sua formação com o gosto local. (pg. 125)
“Faltava porém uma obra que coroasse o esforço empreendido e que prestigiasse a cidade e o artista. Dando seguimento à igreja dos Clérigos, Nasoni construiria na sua retaguarda uma casa utilitária de forma poligonal e um hospital. A partir de 1757 o conjunto completava-se com o início da construção da famosa torre que sintetizará o estilo nasoniano. Com 75,6 metros de altura, servida por escadaria com 225 degraus, divide-se em seis zonas repartidas por quatro andares. Na parte inferior, na primeira zona.” (pg. 129)
“A Torre dos Clérigos coroa a obra de Nasoni e a arquitectura barroca do Porto, permanecendo como emblema da cidade e sinal do poder do clero responsável pela renovação empreendida. O clero, que dominava de facto a cidade, era pois o único grupo social capaz de empreender tal obra ― e o único que verdadeiramente a merecia.” (pg. 130)
in Arquitectura Barroca em Portugal, de José Fernandes Pereira , ICALP - Colecção Biblioteca Breve - Volume 103,1986.
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