O Barroco (arquitectura)

Igreja de S.Nicolau, Porto


Igreja de Santo Ildefonso, Porto
Igreja e Torre dos Clérigos, Porto
 



"Seguindo a regra geral verificável para outros  períodos arquitectónicos, o barroco inicia-se fragmentadamente: motivos dispersos, de feição não estrutural, decorativos, inseridos em edifícios já existentes. É um período de experimentação de formas das suas potencialidades, fenómeno minoritário que entamente irá desalojar um maneirismo persistente e duradouro, até se transformar em discurso dominante.
A segunda metade do século XVII conhecerá uma justaposição de tempos artísticos, quando a modernidade barroca inicia, em substituição, um  processo necessário de renovação do panorama  arquitectónico português. O primeiro exemplo conhecido de aplicação de formas decorativas barrocas é fornecido pela desaparecida igreja de Nossa Senhora do Loreto em Lisboa, pertencente à comunidade italiana da capital.
Pinturas e esculturas que ornavam a igreja, foram importadas de Génova, anunciando um processo de italianização que será particularmente importante no reinado joanino. A principal novidade trazida por essadecoração foram as colunas salomónicas em pedra verde, instaladas em 1671, e que se celebrizaram emItália a partir do baldaquino berniniano para S. Pedro de Roma. Potencialmente essas colunas, devido ao seudinamismo formal, interessavam a uma arquitectura que pretendia quebrar padrões espaciais estáticos. (..)
As salomónicas da igreja do Loreto achavam-se despojadas de quaisquer elementos decorativos. Mas logo em 1676, na igreja de S. Nicolau do Porto, os retábulos perdidos combinavam a salomónica com elementos decorativos vegetalistas multiplicados indefinidamente e fornecendo um padrão estético que a partir da década de 80 se popularizará. Então dar-se-á início ao denominado “estilo nacional” em que a salomónica de ordem coríntia ou compósita se combina com elementos naturalistas ― cachos, folhas, aves ― ou de simbologia cristã  ― fénixes, pequenos anjos em colheita eucarística.Procura-se uma unidade na infinita diversidade e os pequenos apontamentos decorativos, prova do gosto pelo detalhe, inserem-se numa ordenação geral que os enquadra e lhes dá justificação. A talha seguirá um percurso próprio, relegando para plano menor uma escultura subalternizada e gozando dos favores de uma clientela eclesiástica que se comprazia no infinito maravilhamento visual da madeira dourada. A relação da talha com a arquitectura é precisa neste período de experimentação, e assim se manterá ao longo de todo o período barroco: destina-se a dinamizar espaços internos estáticos e austeros já existentes, que se conservam, e cuja fisionomia é assim alterada." (pg. 13-16)

in Arquitectura Barroca em Portugal, de José Fernandes Pereira , ICALP - Colecção Biblioteca Breve - Volume 103,1986.

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