Hedda #2


Hedda

Uma personagem sem comedimento para um talento desmedido.

É uma atriz única. Inventiva, minuciosa, inteira, não se imagina outra coisa que não seja ver Maria João Luís enfrentar a exigência de grandes papéis. Como Hedda Gabler, a personagem que Henrik Ibsen desenhou contra um fundo burguês dos finais do século XIX, uma mulher em proclamação da sua individualidade, numa fúria de (tudo) viver que não olha a meios, ou a meios-termos. José Maria Vieira Mendes propõe, na recriação do original, uma leitura sem o espartilho da notação epocal nem pretensões naturalistas. Independentemente da validade de tal opção, o facto é que a reabilitação da obra como um todo não funciona, sobretudo porque a sublimação do drama interior não tem correspondência com o espaço físico nem com a direção de Jorge Silva Melo. Assiste-se, com alguma estranheza, a uma versão híbrida, sempre a meio caminho entre a natureza intemporal de Hedda e o peso da cor local. E enquanto Maria João toma conta do palco, do S. Luiz, tudo o mais à sua volta se apequena. À independência, determinação, ciúme, capricho, intensidade, beleza, princípio e fim da sua personagem, contrapõe-se a frouxidão de marido, ex-amante, rival. Como um triângulo de que só se visse um lado, sem que os atores (António Pedro Cerdeira, Marco Delgado, Rita Brütt ou, de outra forma, Lia Gama) validem ações e não apenas reações, só Cândido Ferreira (Juiz Brack) conseguindo, no seu jeito e experiência, fugir à réplica cerebral que marca o tom. (Rosário Anselmo) in Visão 7 Lisboa - pág. 19

 
 

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