Novas Cartas Portuguesas



da Breve Introdução de Ana Luísa Amaral a Novas Cartas Portuguesas

"Mais relevante do que saber a verdadeira autoria de Cartas Portuguesas, foi o facto de a figura de Mariana Alcoforado passar de «uma sombra textual anónima» para «uma identidade pessoal e uma genealogia, familiar e nacional, que a configurou ( ... ) como epítome nacionalmente representativo da feminilidade e, aos olhos dos Portugueses, da identidade nacional em geral» (Klobucka 2006a: 19). Essa questão do mistério relativamente à autoria viria a ser de extrema importância para a recepção do livro Novas Cartas portuguesas - afinal, as autoras nunca revelaram publicamente quem assinava parcelar-mente os textos -, desestabilizando as noções fixas de autoria e de autoridade. Não menos relevante para a concepção de Novas Cartas terá sido a escolha de Cartas portuguesas como texto matricial justamente. pelo peso simbólico de que se revestia a figura de Mariana e pela imagem feminina que delas emergia: o estereótipo da mulher abandonada, suplicante e submissa, alternando entre a adoração e o ódio, praticando um discurso de paixão avassaladora por aquele (o cavaleiro) que se apaixonara também, mas partira depois, para não mais, regressar. É esta relação de amor e devoção, de subserviência  e autovitimização que as três autoras, três séculos depois os contornos mais gerais, vão desmontar e re-montar, estilhaçando  fronteiras e limites, quer das temáticas, quer da própria linguagem. "

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