OUTONO
Uma vez um homem encontrou duas folhas e entrou em casa segurando-as com os braços esticados dizendo aos pais que era uma árvore.
Ao que eles disseram então vai para o pátio e não cresças na sala pois as tuas raízes podem estragar a carpete.
Ele disse eu estava a brincar não sou uma árvore e deixou cair as folhas.
Mas os pais disseram olha é outono.
Russell Edson
A pensar na Comunidade de Leitores.
«'Outono' não é exactamente um poema.», observa Rui Manuel Amaral. «Também não é propriamente um conto curto. É algo que fica a meio caminho entre um género e outro. Ou que, de certa forma, parece combinar os dois. Os estudiosos chamam-lhe 'prosa poética'. Uma espécie de ornitorrinco literário. É justamente essa ambiguidade, essa condição de coisa escorregadia, desarrumada e difícil de classificar que me apaixona na grande criação literária. A obra de Russell Edson é um dos melhores exemplos disso mesmo: uma poderosa afirmação de liberdade, de negação de categorias e fronteiras. E este conto-poema-ou-o-que-lhe-queiram-chamar é uma obra-prima desse género singular: não é poesia, não é prosa, é grande literatura.» [daqui]
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