Novas Cartas Portuguesas: "há 38 anos foi histórico, agora é contemporâneo" [Ana Luísa Amaral]



[...] é muito interessante porque elas, ao desmontarem a noção de autoria, desmontam a noção de autoridade, questionam a autoridade social, a ditadura. Mas ao estenderem isso até agora, por mais 40 anos, no fundo é a própria autoridade social e a ideia de poder das nossas sociedades de hoje em dia, de controlo de tudo, que está também a ser posta em causa. Há um estudo feito, por exemplo, na Universidade de Aveiro que diz que as poesias são todas da Teresa Horta. Não são. Parece que até são poucas.

O que acontece é que elas exercitam a escrita umas das outras. Trabalham também com o conceito de alteridade, com a importância do outro. O outro que traz o seu texto. É quase uma cooperativa literária. É uma utopia, mas é uma utopia que tem resultados práticos. É como se provasse que a utopia é possível. E, depois, há a intertextualidade que percorre o livro. O livro do ponto de vista literário é riquíssimo, tem referências históricas, culturais, literárias de diversíssima ordem, umas mais, outras menos óbvias. Logo na primeira carta, quando se fala de Outubro e Maio, são os vários maios importantes na história portuguesa, europeia e mundial: o Primeiro de Maio, o Maio de 68, o mês de Maria, o Armistício. E há os diálogos intertextuais com outros escritores: Herberto Helder, Alexandre O'Neill, Eugénio de Andrade, a poesia trovadoresca, Bernardim Ribeiro. É toda a literatura portuguesa que é percorrida e não só, é Lévi-Strauss, por exemplo. A literatura e a história mundiais são aqui reactivadas, mas de uma forma nova. [...] Ana Luísa Amaral

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