Comente a seguinte afirmação de Alexandre Herculano:
"Fernão Lopes adivinhou os princípios da moderna história: a vida dos tempos de que escreveu transmitiu-a à posteridade, e não, como outros fizeram, somente um esqueleto de sucessos políticos e de nomes célebres. Nas crónicas de Fernão Lopes não há só história: há poesia e drama; há a Idade Média com sua fé, seu entusiasmo ou amor de glória."
Com efeito, é a Fernão Lopes que se deve a história moderna, pois, como cronista-mor do reino, ele teve o cuidado de, em crónica, deixar registado os factos mais relevantes.
A verdade, como nota Alexandre Herculano, é que Fernão Lopes foi o primeiro a mostrar preocupação com a verdade dos factos, livre da “mundanal afeição”. De facto, como refere no Prólogo à Crónica de D. João I, há um cuidado em dizer a verdade, mesmo que isso implique não fazer o elogio dos seus. Para tal baseia-se em documentos históricos e em leituras várias, não se deixando, ou melhor, tentando não se deixar contaminar pelos afectos e pelo “sangue”. O povo, em Fernão Lopes, ganha uma expressão redobrada: é a “arraia miúda” quem escolhe o seu líder (vide Mestre de Avis em Crónica de D. João I). A história é feita por todos e não apenas pela nobreza.
O que foi anteriormente referido, não invalida que o cronista não tenha embelezado a língua portuguesa. O cronista serviu-se da língua para exprimir sensações, para nos transportar para a época dos factos. Assim, concordamos com Herculano, pois ler Fernão Lopes é viajar no tempo, é fazer parte da “arraia miúda”.
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