ARTE POÉTICA | Maria Rosário Pedreira
ARTE POÉTICA
Num romance, uma chávena é apenas
uma chávena — que pode derramar
café sobre um poema, se o poeta,
bem entendido, for a personagem.
Num poema, mesmo manchado
de café, a chávena é certamente a
concha de uma mão — por onde eu
bebo o mundo, em maravilha, se tu,
bem entendido, fores o poeta.
No nosso romance, não sou sempre
eu quem leva as chávenas para a mesa
aonde nos sentamos a noite, de mãos dadas,
a dizer que a lata do café chegou ao fim,
mas a pensar que a vida é
que já vai bastante adiantada para os
livros todos que ainda pensamos ler.
No meu poema, não precisamos
de café para nos mantermos acordados:
a minha boca está sempre na concha da tua mão,
todos os dias há páginas nos teus olhos,
escreve-se a vida sem nunca envelhecermos.
Maria Rosário Pedreira
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Camilo Castelo Branco
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Laminagem | Joaquim Manuel Magalhães
LAMINAGEM
Um país agora este imenso aterro
teve alguma vez colinas e montados
onde o olhar demorava, adormecia
e seguia uma alegria viandante?
Ou gente que chegasse a qualquer mar
de que não quisesse logo fugir?
Só o pastorial decrépito o suspirava.
Teve o que todos tinham, em quantidade escassa,
até cobrir-se de desterro e de ilegais
e em pano de fundo esse lagar
de suicidas e débitos e primeiras segundas gerações.
A farpa de aceitação de quem consome
o sem destino da consciência.
Um país; tornou-se um assassino.
Viverei os poucos verões até morrer
com este mundo de agressão em cerco.
Eu queria outro país, outro lugar
e tenho este infortúnio de leis amarrotadas
que não cumprem nem o violento nem o clandestino.
Um país de acasos,
um parque de campismo selvagem, um cimento apodrecido,
a música de sem abrigos nas estações de metro
enquanto não chegam comboios avariados
às plataformas de arte depredada,
um esboroamento sanguinário.
Até a linguagem me ergueu
me sabe a sarro e a arrabalde.
Não fossem as obrigações que nos garrotam
nos fazem monstros com a lassidão de herbívoros
talvez pudesse ter o interior abandonado
e chegasse a faca do sol e me cortasse
noutra penúria mais serena.
Ainda que me digam que não olhe,
eu vejo. Ainda que me digam faz ginástica
e a depressão desaparece, nada me resolve.
Os ruídos sobem de qualquer lugar,
sintetizadores, martelos, desabamentos
uma percussão alheia a qualquer justiça.
Nenhuma janela que não fale
da construção administrativa dos piores instintos.
Todo o lixo do humano feito sebo
em qualquer lugar. Ainda que me digam
que vivemos em democracia eu digo
que não sei. Nem direitos nem deveres.
Um sem remédio ancestral.
Morreu a casa. Matou-a
o que lhe coube por contemporâneo
contra a placidez. Os autorizados
pelo conluio e pela votação.
Morreu a casa. E o pior
é não poder partir. Os laços
já se juntaram em anestesia. Preso
por outro amor, que não entende,
que não ouve como a casa já morreu.
A alguns vemo-los em qualquer pousio
depois de fecharem as lojas
e nem se sabe o que vemos.
Aos balcões de cafés de azulejo,
com telemóveis pendurados nos cintos
e os cartões de crédito em dente na carteira.
Riem-se e batem nas costas
uns dos outros, entreolham e vigiam
se alguém diverso se aproxima
para largarem uma troça arcaica, e comem
com essa fome dos que não sofreram ainda
inquietações laborais ou crêem que virá
depressa o primeiro emprego.
Ao olhá-los melhor, aos seus afectos
de pessoal especializado em escuras economias
adicionais, vejo-os depois no verão.
Ao deus dará em todos os lugares,
em tendas velhas, em rulotes,
sabe-se lá onde vão cagar. E as mulheres
com os sinais exteriores da aspereza.
E as asas do inverno marítimo
auguram aluimento.
Eu queria que na cabeça parasse
o furor de tudo o que tomba,
a derrota do dia a dia,
mas será sempre o cabide do tempo
quem estende as garras
para nos alhear.
E os e-mail atravessam zonas sem remendo,
choças de tijolo com roupas a secar.
Assim armado o país.
As gentes em catástrofe deslocam-se,
deixam por testemunho o abandono e a inépcia.
Uma a uma, uma paisagem é trucidada.
Inchou a autarquias o país.
Atravessam-no a miséria e algum dinheiro
insolentes.
Um assassino
espreita outro assassino.
Os que destroem agora
podem exigir os torcionários que virão,
pois quem destrói pressente um chefe
e vai servi-lo.
E muitos hão-de sempre ser as vítimas
da liberdade que consente a violência
da violência que não consente a liberdade.
Um assassino o país. Com as suas leis
inúteis, a sua ordem por cumprir.
Só nos resta esperar então morrer?
Joaquim Manuel Magalhães
Alta Noite em Alta Fraga(2001)
Um país agora este imenso aterro
teve alguma vez colinas e montados
onde o olhar demorava, adormecia
e seguia uma alegria viandante?
Ou gente que chegasse a qualquer mar
de que não quisesse logo fugir?
Só o pastorial decrépito o suspirava.
Teve o que todos tinham, em quantidade escassa,
até cobrir-se de desterro e de ilegais
e em pano de fundo esse lagar
de suicidas e débitos e primeiras segundas gerações.
A farpa de aceitação de quem consome
o sem destino da consciência.
Um país; tornou-se um assassino.
Viverei os poucos verões até morrer
com este mundo de agressão em cerco.
Eu queria outro país, outro lugar
e tenho este infortúnio de leis amarrotadas
que não cumprem nem o violento nem o clandestino.
Um país de acasos,
um parque de campismo selvagem, um cimento apodrecido,
a música de sem abrigos nas estações de metro
enquanto não chegam comboios avariados
às plataformas de arte depredada,
um esboroamento sanguinário.
Até a linguagem me ergueu
me sabe a sarro e a arrabalde.
Não fossem as obrigações que nos garrotam
nos fazem monstros com a lassidão de herbívoros
talvez pudesse ter o interior abandonado
e chegasse a faca do sol e me cortasse
noutra penúria mais serena.
Ainda que me digam que não olhe,
eu vejo. Ainda que me digam faz ginástica
e a depressão desaparece, nada me resolve.
Os ruídos sobem de qualquer lugar,
sintetizadores, martelos, desabamentos
uma percussão alheia a qualquer justiça.
Nenhuma janela que não fale
da construção administrativa dos piores instintos.
Todo o lixo do humano feito sebo
em qualquer lugar. Ainda que me digam
que vivemos em democracia eu digo
que não sei. Nem direitos nem deveres.
Um sem remédio ancestral.
Morreu a casa. Matou-a
o que lhe coube por contemporâneo
contra a placidez. Os autorizados
pelo conluio e pela votação.
Morreu a casa. E o pior
é não poder partir. Os laços
já se juntaram em anestesia. Preso
por outro amor, que não entende,
que não ouve como a casa já morreu.
A alguns vemo-los em qualquer pousio
depois de fecharem as lojas
e nem se sabe o que vemos.
Aos balcões de cafés de azulejo,
com telemóveis pendurados nos cintos
e os cartões de crédito em dente na carteira.
Riem-se e batem nas costas
uns dos outros, entreolham e vigiam
se alguém diverso se aproxima
para largarem uma troça arcaica, e comem
com essa fome dos que não sofreram ainda
inquietações laborais ou crêem que virá
depressa o primeiro emprego.
Ao olhá-los melhor, aos seus afectos
de pessoal especializado em escuras economias
adicionais, vejo-os depois no verão.
Ao deus dará em todos os lugares,
em tendas velhas, em rulotes,
sabe-se lá onde vão cagar. E as mulheres
com os sinais exteriores da aspereza.
E as asas do inverno marítimo
auguram aluimento.
Eu queria que na cabeça parasse
o furor de tudo o que tomba,
a derrota do dia a dia,
mas será sempre o cabide do tempo
quem estende as garras
para nos alhear.
E os e-mail atravessam zonas sem remendo,
choças de tijolo com roupas a secar.
Assim armado o país.
As gentes em catástrofe deslocam-se,
deixam por testemunho o abandono e a inépcia.
Uma a uma, uma paisagem é trucidada.
Inchou a autarquias o país.
Atravessam-no a miséria e algum dinheiro
insolentes.
Um assassino
espreita outro assassino.
Os que destroem agora
podem exigir os torcionários que virão,
pois quem destrói pressente um chefe
e vai servi-lo.
E muitos hão-de sempre ser as vítimas
da liberdade que consente a violência
da violência que não consente a liberdade.
Um assassino o país. Com as suas leis
inúteis, a sua ordem por cumprir.
Só nos resta esperar então morrer?
Joaquim Manuel Magalhães
Alta Noite em Alta Fraga(2001)
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Falam, falam, falam...
[algumas] críticas à Corte em UM AUTO DE GIL VICENTE:
BERNARDIM
" Juntam-se as cortes; falam muito, não fazem nada. Esse é o costume; sabemos. —Não me enfades mais." (Acto I, cena III)
"essa corte sem alma, essas damas sem espírito, esses fidalgos sem coração." (Acto I, cena III)
"Basta com esse bobo de Gil Vicente e seus autos, que já me enfadam ele, tu e vossas comédias, que assim trazem embelecada esta corte de comediantes, que de mais não cuidam" (Acto I, cena III)
Paula Vicente
"Tudo é representar e fingir nesta vida de corte. Que fosse para os grandes em quem é natureza, não lhes custa. Mas para os pequenos também... é suplício." (Acto II, cena I)
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Um auto de Gil Vicente
gótico florido (a propósito de Um Auto de Gil Vicente)
"Os paços da Ribeira. Grande salão no estilo de Belém: é gótico florido inclinando fortemente à renascença. Tochas e placas com luzes." (indicação cénica do Acto II de Um Auto de Gil Vicente)
As três épocas góticas
1ªépoca: Gótico inicial (séc. XII)
-Transição do Românico para o Gótico.
-Abandonou-se lentamente a tradição arquitectónica regional.
-O Homem procura um acesso directo à união comDeus, daí a planta das igrejas góticas ser, na sua maioria, em forma de cruz latina.
2ª época: Gótico Clássico (séc. XIII e XIV)
-Educação política, social e filosófica que levou auma nova concepção do mundo.
-Construção e decoração de catedrais.
- O modelo de catedral impõe-se por toda a Europa.
3ª época: Gótico Tardio ou Flamejante (séc. XIV)
-Misticismo e ascensão da burguesia.
-Formas nacionais diferenciadas.
-Época de epidemias, guerras e miséria, o Homem sente mais necessidade de Deus → foram construídas inúmeras catedrais.
-Libertação das artes plásticas da dependência da arquitectura sacra.
-Decoração mais profusa.
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A SALA DAS PEGAS (a propósito de Um Auto de Gil Vicente)
"Cuida que é a sala das Pegas ali dentro! Pois esta não há-de ser palreira, que capaz sou eu de me comer a língua se me ela comer muito — com a sua comichão costumada." (Pêro Sáfio)(pormenor do tecto da Sala das Pegas no Palácio Nacional de Sintra)
A SALA DAS PEGAS (a lenda)
Sendo encontrado D. João I por sua esposa beijando uma das suas damas, porque o fazia por sincera amizade, e não por criminoso amor, respondeu à rainha agastada, que tinha sido por bem e mandou edificar uma sala, cujo tecto é pintado de pegas, para que esta ave como faladora apregoasse a sua inocência, e a pureza injustamente manchada daquela donzela.
No tecto da Sala estão pintadas 136 pegas, tantas quantas as damas da corte, cada uma com uma rosa e um bilhete no bico, onde se lê "Por bem".
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Teatro do Salitre (a propósito de Um Auto de Gil Vicente)
O Teatro do Salitre foi edificado em 1782 e possuía "lotação para 900 espectadores, distribuídos por 21 frisas, 27 camarotes de 1ª ordem, 22 de 2ª, 207 lugares de plateia, 147 de superior, 120 de geral e 60 nas varandas." Também conhecido como Teatro das Variedades, funcionava com regularidade. Durante parte do século XIX, apresentou grande variedade de espectáculos: ópera, tragédia, drama, comédia, farsa, mágica, vaudeville, variedades, bailado, música, ginástica, equilibrismo, malabarismo, ventriloquia, prestidigitação, fantoches e até feras amestradas.
Ainda a propósito de O Contrabaixo, de Süskind
(fotografia de Man Ray)
"Em “Class: A Guide Through the American Status System” de Paul Fussell, a hierarquização dos instrumentos no seio de uma orquestra é referida como exemplo da estratificação social e atribuição de classes. Diz o autor que a constituição de classes sociais para os instrumentos baseia-se tanto na dificuldade e grau de subtileza do instrumento como no prestígio que socialmente se lhes atribui. De um modo geral, refere, quanto mais baixas as notas produzidas por um instrumento mais baixa a classe a que pertencerá. Esta ideia é ilustrada com o exemplo da reacção social à frase “O meu filho anda a aprender flauta” em comparação com “O meu filho anda a aprender trombone”, realçando-se que esta última provocará no mínimo um sorriso divertido, inexistente no caso da primeira frase."
A posição do contrabaixo na estrutura hierárquica da Orquestra, uma hierarquia ditada pela sonoridade dos instrumentos, é mais uma das razões da frustração do contrabaixista de Süskind. No seu entender, para além de não se destacar musicalmente, o instrumento é ainda “arrumado” ao fundo do colectivo de executantes, pelo que dificilmente alguém notará o seu talento ou esforço (“A seguir a nós só mesmo os timbales!”).
(a partir de materiais cedidos pelas Visões Úteis)
Memória de Minhas Putas Tristes, de Gabriel Garcia Márquez (Jessica)
Este livro conta-nos a história de uma homem de idade avançada, que no dia em que faz noventa anos, decide oferecer a si mesmo uma virgem de presente. Ao entrar no quarto, encontra uma menina de 14 anos a dormir. Perante este quadro, decide deitar-se a seu lado. A pobre criatura, cansada de um dia longo de trabalho na fábrica de botões, nem dá pela sua presença.
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Bolor, de Augusto Abelaira
"- Por que casaste comigo em vez de casar com outra? Porque me escolheste a mim como imagem da vida quotidiana, ponto de referência em relação ao qual uma diferente vida é possível –vida, parêntesis, na realidade inútil de todos os dias? Porque me sacrificaste ao casares comigo, em vez de casares com outra ?Outra, portanto, o ponto de referência em relação ao qual eu seria agora o parêntesis, o sonho...? – Pausa. – Porque casei contigo? Porque te sacrifiquei ao casar-me contigo, tu, que se eu não tivesse casado contigo serias o parêntesis, o sonho, a imagem da beleza nesta vida? – Pausa. – Embora, bem sei, nada disso tivesse importância, embora tudo continuasse igualmente errado? (Bolor, Augusto Abelaira)"
BOLOR - Augusto Abelaira
Bolor (1968) é um romance fragmentado. A tipologia diarística foi a forma adoptada pelo autor para nos
dar a conhecer, primeiro, Humberto e depois Maria dos Remédios. Humberto, casado com Maria dos Remédios, vai falando de si e estabelecendo, no diário comparações entre a mulher, Maria dos Remédios, e Catarina. Catarina, já falecida, havia sido a sua primeira mulher e paira quase como um fantasma entre os dois. Maria dos Remédios descobre o diário e passa a escrever nele, fazendo revelações que de outra forma seriam escondidas. O diário passa a ser o espaço onde se revelam um ao outro, confessando que o casamento está a matar o amor. Humberto diz mesmo que o casamento é a morte da experiência amorosa.
dar a conhecer, primeiro, Humberto e depois Maria dos Remédios. Humberto, casado com Maria dos Remédios, vai falando de si e estabelecendo, no diário comparações entre a mulher, Maria dos Remédios, e Catarina. Catarina, já falecida, havia sido a sua primeira mulher e paira quase como um fantasma entre os dois. Maria dos Remédios descobre o diário e passa a escrever nele, fazendo revelações que de outra forma seriam escondidas. O diário passa a ser o espaço onde se revelam um ao outro, confessando que o casamento está a matar o amor. Humberto diz mesmo que o casamento é a morte da experiência amorosa.
"Talvez Bolor seja uma das obras de Augusto Abelaira que melhor sintetize asinquietações da sociedade burguesa ocidental. Representando os comportamentos do indivíduo da era pós-industrial, o autor abre espaço para a reflexão sobre a vida como é vivida na sociedade individualista. Desse modo, podemos observar a atitude de compromisso social adotada pelo escritor, que iniciou sua obra dentro da estética neo-realista. Assim, a obra espelha o esfacelamento das relações (im)pessoais e o conseqüente vazio que tal desintegração gera, situação que faz com que as personagens procurem algo exterior parapreencher esse vazio." (Edimara Luciana Sartori)
O Bolor foi lido pelo Tiago.
O Bolor foi lido pelo Tiago.
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O Contrabaixo, de Patrick Suskind | Visões Úteis | Teatro do Campo Alegre
Numa sala à prova de som, provavelmente o quarto onde vive, um contrabaixista de uma Orquestra Nacional decide contar como é vivida a sua solidão e confidenciar, com ironia amargurada, o seu amor não revelado por uma das sopranos da Orquestra. Esta relação platónica encontra no próprio contrabaixo o seu maior obstáculo: instrumento arcaico, que melhor se ouve quanto mais nos afastarmos dele, de aparência hermafrodita, desajeitado e incómodo, o contrabaixo torna-se para este homem no maior empecilho à liberdade e ao amor.
Produção da Visões Úteis, com texto de Patrick Suskind, dramaturgia e direcção de Ana Vitorino, Carlos Costa, Catarina Martins e Pedro Carreira e interpretação de Pedro Carreira e músicos convidados.
Segunda-Feira, dia 10, pelas 14.30, no Teatro Campo Alegre
Produção da Visões Úteis, com texto de Patrick Suskind, dramaturgia e direcção de Ana Vitorino, Carlos Costa, Catarina Martins e Pedro Carreira e interpretação de Pedro Carreira e músicos convidados.
Segunda-Feira, dia 10, pelas 14.30, no Teatro Campo Alegre
Os amantes aprovados, de Agustina Bessa-Luís
Os Amantes Aprovados
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Livros que lemos no Outono
O Amante, de Marguerite Duras (Maria João)
Bolor, de Augusto Abelaira (Tiago)
E aos costumes disse nada, de David Mourão-Ferreira (Bruna)
A Soma dos Dias, de Isabel Allende (Jéssica )
A morte de Ivan Ilitch, de Tolstoi (Sandra)
Contos Extraordinários, de Edgar Alllan Poe ()
Morder-te o Coração, de Patrícia Reis (Joana)
O Papalagui, de Tuiavii (Juliana)
As aventuras de João sem Medo, de Gomes Ferreira (Juliana)
O Problema de ser Norte, de Filipa Leal (Juliana)
O Problema de ser Norte, de Filipa Leal (Gabriella)
Paula, de Isabel Allende (Gabriella)
Amor de Perdição, de Camilo Castelo Branco (Cátia)
Digo-te por isso, de Filipa Leal
Digo-te por isso
que não me obrigues a luz.
Que escrever não é fácil,
que viver não é fácil
quando começamos a frase a meio.
Que lavo a cara ao chegar tão tarde
e mesmo assim o dia não se despega,
e mesmo assim
tu não estás, ninguém está.
Que não tenho espaço na minha secretária,
na minha vida, na minha cama
para tanto espaço.
Que já me disseram urbana,
e nem por isso me disseram decadente,
e que eu gostei.
Que já me disseram
muitas vezes
disfarçadamente triste,
e que por isso, por ser triste, por
sermos todos tristes, não mo deviam dizer.
Digo-te por isso
que não era minha intenção dizer-te mais uns versos
tristes e sem luz, e por isso, só por isso,
não era minha intenção dizer-te nada.
Filipa Leal
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