Captatio Benevolentiae* na introdução de Amor de Perdição



Na introdução, Camilo entrelaça duas histórias – a sua e a de Simão – a partir de uma coincidência: a de um estar na Cadeia da Relação e de outro por lá ter passado. A Cadeia é assim o pretexto para uma viagem memorialista por uma história familiar.

A referência e a reprodução dos registos escritos inscritos nos velhos livros de assentamentos da cadeia de Relação do Porto, a par da neutralidade informativa do texto produzem um duplo efeito: o de enigma e o de verdade. Ao dar estes dados ao leitor, este se quiser pode, por si, ir verificar a veracidade dos mesmos, ao mesmo tempo que se estimula a curiosidade e se adensa o mistério.

Por outro lado, na Introdução, o narrador-autor manipula o potencial leitor, de modo a fazer com que este crie empatia com a figura de Simão Botelho, usando para isso dois argumentos: a juventude e o amor que o jovem sentiu. Somando a isto, o autor traça o perfil do leitor da sua obra, este deve ter “sensibilidade” e “boa formação” – ora que leitor é que não se quer identificar com este modelo?

Com esta estratégia, o autor sacraliza o amor e desresponsabiliza Simão de todos os outros actos. Camilo mostra que só os incapazes de compreender o amor condenarão Simão (e já agora a ele próprio, que na época se encontrava preso por motivos passionais).

* Captatio Benevolentiae - Expressão da retórica latina que significa literalmente “conquista da benevolência”, muito difundida em todas as literaturas românicas, quando um escritor quer ganhar a simpatia do leitor, interpelando-o no sentido de receber louvor e solidariedade para a causa que está a ser defendida )

(para saber mais consulta a Colóquio-Letras)

Nenhum comentário: