O que estamos a ler
Às vezes o paraíso, Ana Luísa Amaral
A metamorfose da Planta dos Pés, Catarina Nunes de AlmeidaMágoa das Pedras, Joaquim Castro Caldas
Gaveta de Papéis, José Luís Peixoto
Versos Olímpicos, José Ricardo Nunes
Obra, Adília Lopes
O problema de ser Norte, Filipa Leal
A cidade líquida e outras texturas, Filipa Leal
A Casa e o Cheiro dos Livros, Maria do Rosário Pedreira
Proposta de trabalho #1
"Há neste conto [Uma esplanada sobre o Mar] uma nítida disjunção entre a experiência trágica das personagens e a plenitude solar da paisagem marítima que invade a esplanada onde o jovem revela à rapariga a sua iminente condenação"( Isabel Cristina Rodrigues in Vergílio Ferreira ou a negação do conto)
Redige um comentário crítico, tendo por base a tua experiência de leitura de Uma esplanada sobre o Mar e a afirmação de sabel Cristina Rodrigues.
Etiquetas:
escrita,
Vergílio Ferreira
Jorge Fallorca
"Também conheço um poeta exilado num condomínio de metáforas. Rodeou-se de palavras que cultiva em cadernos e guardanapos de papel, com a dedicação e paciência de um jardineiro cego.
Ninguém se atreve a dizer-lhe que nem as piteiras sobrevivem na aridez desse jardim meticulosamente escrito, onde passa horas infindáveis a podar o vazio e a regar o silêncio que brota das suas páginas inéditas.
E, no dia em que morrer, uma duna será tudo o que restará da sua obra, que o vento e o tempo se encarregarão de aliviar do jugo das metáforas."
Jorge Fallorca (in Telhados de Vidro, n.º11, pg. 46)
Natal | Maria do Rosário Pedreira
Natal
(à avó)
ficou vazio o teu lugar à mesa. Alguém veio dizer-nos
que não regressarias, que ninguém regressa de tão longe.
E, desde então, as nossas feridas tem a espessura
do teu silêncio, as visitas são desejadas apenas
a outras mesas. Sob a tua cadeira, o tapete
continua engelhado, com a tua ida.
provavelmente ficará assim para sempre.
no outro Natal, quando a casa se encheu por causa
das crianças e um dos nós ocupou a cabeceira,
não cheguei a saber
se era para tornar a festa menos dolorosa,
se era para voltar a sentir o quente do teu colo.
Maria do Rosário Pedreira
(à avó)
ficou vazio o teu lugar à mesa. Alguém veio dizer-nos
que não regressarias, que ninguém regressa de tão longe.
E, desde então, as nossas feridas tem a espessura
do teu silêncio, as visitas são desejadas apenas
a outras mesas. Sob a tua cadeira, o tapete
continua engelhado, com a tua ida.
provavelmente ficará assim para sempre.
no outro Natal, quando a casa se encheu por causa
das crianças e um dos nós ocupou a cabeceira,
não cheguei a saber
se era para tornar a festa menos dolorosa,
se era para voltar a sentir o quente do teu colo.
Maria do Rosário Pedreira
Etiquetas:
Maria do Rosário Pedreira
Uma emergência de outono | João Luís Barreto Guimarães
Uma emergência de outono
As cores da maçã assada aberta
pelo fim do verão antecipam no palato
uma emergência de outono.
Convida a ficar em casa
esta maçã que feri e salpiquei pelo torso com
cézannes de canela.
Sob a epiderme tisnada (cor
amarelo-pecado) é
perene o seu sabor. Vê só
como jazem nuas
suas vestes pelo prato
(qual roupa de rapariga desbragada
pelo chão).
João Luís Barreto Guimarães
Etiquetas:
João Luís Barreto Guimarães
Serralves | Festa do Outono
27 Set 2009 - das 10:00 às 19:00 - PARQUE DE SERRALVES
Com chegada do Outono a natureza renova-se, é tempo de colheitas, de vindimas e também de festejar!
Serralves festeja este novo ciclo oferendo ao seu público um conjunto de actividades diversificadas e criativas para todas as idades, proporcionando assim um dia dedicado às famílias em que se reavivam antigas tradições e costumes.
Vamos construir espantalhos, lançar papagaios, desfolhar e respigar, pintar ao ar livre e muito mais…
Temos ainda teatro de rua, marionetas, danças e cantares, e música.
Das 10h00 às 19h00, vamos festejar com todos quantos nos visitarem.
A entrada é gratuita e realiza-se pelos portões da Avenida Marechal Gomes da Costa e da Rua Bartolomeu Velho nº 141. (mais aqui)
Senhora Veermer | Ana Paula Inácio
Senhora Veermer
À senhora Vermeer coube-lhe a sorte
de não caber nos quadros
de Vermeer, seu marido.
Não possuía o traço do anil
ou do ouro
que lhe caíam do regaço
como única declaração de posse
das jóias e do marido
que não era jóia nenhuma
como dizia a criada
que sabia como se cozinhavam as coisas
à rapariga do brinco
que ele pintou para sua desgraça.
A senhora Vermeer não ficou na História de Arte
só na das histéricas lágrimas
e inúteis poses
desvairada e borratada
na sua pintura.
Ana Paula Inácio
CONSTELAÇÕES | Ana Luísa Amaral
CONSTELAÇÕES
Usamos todos a ilusão
de fabricar a vida:
histórias, constelações
de sons e gestos
Usamos todos a suprema glória
do amor: por generosidade
ou fantasia, ou nada, que de nada se fazem
universos
Usamos todos mil chapéus de bicos
mal recortados e de encontro
ao sol:
o nosso mais perfeito em franja e bico
e um arremedo tal e seiscentista
que ofuscando-se: o sol
Usamos todos esta condição
de pó de vento, ou de rio
sem pé: único dom de fabricar o tempo
em raiz de palmeira
ou de cipreste
Ana Luísa Amaral, Se fosse um intervalo
Etiquetas:
Ana Luísa Amaral
PROJECTO COM ESCOLAS 2009 - 2010
Máquinas é o tema do projecto com escolas para 2009/2010. Propõe-se uma reflexão sobre questões que se prendem com a ecologia, a arte e o design. A pesquisa e a experimentação constituem momentos fundamentais do processo de trabalho, numa aproximação criativa, por um lado, à obra de artistas contemporâneos cujas práticas revelam preocupações neste âmbito e, por outro, ao trabalho de cientistas que se dedicam a pensar e a propor soluções práticas para um futuro sustentável. ver aqui
Exílio | Beatriz Hierro Lopes
Exílio, Beatriz Hierro Lopez
"Todas as manhãs repetia a mesma dança, empurrando o rosto contra o espelho durante a análise minuciosa das novas rugas que haviam florescido durante a noite. Apenas durante a noite se pode envelhecer – pensava, enquanto levava acabo a árdua tarefa de desenterrar, sistematicamente, os meses já vividos.
A primeira morte era a mais violenta: o Janeiro das promessas convertia-se em desilusão chorosa, ao antever o seu fim. Prosseguia-se com o luto em Fevereiro: camuflava-se o corpo; impunham-se as máscaras contra o futuro; esperando que a mutação súbita concedesse o brilho de um recomeço tão próximo do início. Março era longo. Estendido entre “o que se gostaria de ser” do mês mais pequeno, e o majestoso Abril, rico em lágrimas.
O céu abre as suas feridas ao Mundo em Abril. Dizendo que não; que nunca existirá, ao longo deste século, esperança suficiente para calar as bocas do Mundo: que não haverá utopia que quebre a ordenação vagarosa das décadas, contemporâneas da crise humana que é a falta de imortalidade. Presos à terra permeabilizada por todos os materiais da construção moderna, homens e mulheres surgem como cogumelos debaixo de guarda-chuvas coloridos. Escondem-se das águas tristes que, ao escorrerem do céu, lhes tocam a raiz dos dedos. Atraiçoando. Revelando que não existe máscara que resista ao confronto com o futuro.
Era, pela altura do primeiro balanço de contas à felicidade anual, que Maio nascia. Apresentando-se como um túnel pouco luzidio de paredes frias, prontas a sufocar a única saída de emergência avistada no centro de todo o imenso caos que é existir. Em Maio a derrota está sempre mais próxima; disponível para o engano da luz de Junho; que, ao clarear os olhos sensíveis das gentes, encobre o começo da fuga trágica do Sol: cada vez mais próximo, mais distante.
Continua aqui
Etiquetas:
Beatriz Hierro Lopes
Renata Correia Botelho
gostas ou não gostas que
te chamem pelo nome, ao cair
da esquina no ladrilho? Sol
capacho, pecado ou lentidão;
é uma questão de segundos
até que a pedra molde,
ao fundo, os seus desígnios
quando a atiras da falésia
recolhe o tempo,
dita, ao salitre, o nome que te coube
no verso principal
deste rodar de palco
deixa a mudez dos peixes
decidir o resto
trilhar
o rasto
do teu papel.
(Avulsos, por causa, 2001)
Carta para A.
viste que os dias não passavam
disto, e viste bem. desse lado
do céu, tens o melhor miradouro
sobre a madrugada. se encontrares
o pintainho
que sepultámos,
em segredo e lágrimas, no
quintal das tias, pede-lhe o
arco da sua asa nas noites de lua nova.
remete-me, quando puderes,
pacotes de chuva miúda, gosto
de a ver decalcar a terra, fundir-se
com as sementes de milho
no canto da achadinha.
entretanto, vou montando o
telescópio, com as instruções
que me deste. põe-te à vista
e combinamos um
gelado a
meio caminho,
à hora da infância.
(Avulsos, por causa, 2001)
a mesa está posta de ervas
para dois, esperam-nos
melros e canteiros.
no jardim, sabem que fomos
com o musgo, com os grilos,
para o colo da
terra,
somos, agora parte
da primavera, nunca estivemos
tão chegados
ao mundo
tão dentro de casa.
( «Telhados de Vidro» nº 2)
te chamem pelo nome, ao cair
da esquina no ladrilho? Sol
capacho, pecado ou lentidão;
é uma questão de segundos
até que a pedra molde,
ao fundo, os seus desígnios
quando a atiras da falésia
recolhe o tempo,
dita, ao salitre, o nome que te coube
no verso principal
deste rodar de palco
deixa a mudez dos peixes
decidir o resto
trilhar
o rasto
do teu papel.
(Avulsos, por causa, 2001)
Carta para A.
viste que os dias não passavam
disto, e viste bem. desse lado
do céu, tens o melhor miradouro
sobre a madrugada. se encontrares
o pintainho
que sepultámos,
em segredo e lágrimas, no
quintal das tias, pede-lhe o
arco da sua asa nas noites de lua nova.
remete-me, quando puderes,
pacotes de chuva miúda, gosto
de a ver decalcar a terra, fundir-se
com as sementes de milho
no canto da achadinha.
entretanto, vou montando o
telescópio, com as instruções
que me deste. põe-te à vista
e combinamos um
gelado a
meio caminho,
à hora da infância.
(Avulsos, por causa, 2001)
a mesa está posta de ervas
para dois, esperam-nos
melros e canteiros.
no jardim, sabem que fomos
com o musgo, com os grilos,
para o colo da
terra,
somos, agora parte
da primavera, nunca estivemos
tão chegados
ao mundo
tão dentro de casa.
( «Telhados de Vidro» nº 2)
Etiquetas:
Renata Correia Botelho
PARTE POÉTICA | José Miguel Silva
PARTE POÉTICA
Não é fácil ser poeta a tempo inteiro.
Eu, por exemplo, nem cinco minutos por dia,
pois levanto-me tarde e primeiro há que lavar
os dentes, suportar os incisivos
à face do espelho, pentear a cabeça e depois,
a poeira que caminha, o massacre dos culpados,
assistir de olhos frios à refrega dos centauros.
Chegar por fim a casa para a prosa
de uma carne à jardineira, o estrondo
das notícias, a louça por quebrar. Concluindo,
só por volta das duas da manhã começo a despir
o fato de macaco, a deixar as imagens correr,
simulacro do desastre.
Mas entretanto já é hora de dormir.
Mais um dia de estrume para roseira nenhuma.
José Miguel Silva
Relâmpago, n.º 12, Fundação Luís Miguel Nava, Lisboa, 2003.
Não é fácil ser poeta a tempo inteiro.
Eu, por exemplo, nem cinco minutos por dia,
pois levanto-me tarde e primeiro há que lavar
os dentes, suportar os incisivos
à face do espelho, pentear a cabeça e depois,
a poeira que caminha, o massacre dos culpados,
assistir de olhos frios à refrega dos centauros.
Chegar por fim a casa para a prosa
de uma carne à jardineira, o estrondo
das notícias, a louça por quebrar. Concluindo,
só por volta das duas da manhã começo a despir
o fato de macaco, a deixar as imagens correr,
simulacro do desastre.
Mas entretanto já é hora de dormir.
Mais um dia de estrume para roseira nenhuma.
José Miguel Silva
Relâmpago, n.º 12, Fundação Luís Miguel Nava, Lisboa, 2003.
Etiquetas:
José Miguel Silva
DEUS NOS LÍRIOS | Renata Correia Botelho
DEUS NOS LÍRIOS
para a minha mãe
sinto deus, todas as noites, nos lírios
de Monet. olham para mim,
por esta sombra incerta que morre
aos poucos comigo, cobrem
de seiva viva a escuridão da casa
e afastam os demónios
que se escondem nas frestas do sono.
pela manhã, junto as pétalas tenras
caídas no lençol, e rezo baixinho,
com os pardais, um verso branco.
Telhados de Vidro, n.º 12, Averno, Lisboa, 2009.
Etiquetas:
poesia,
Renata Correia Botelho
Quintas de Leitura (casting)
Gostas de poesia?
Queres ler poesia nas sessões do ciclo “Quintas de Leitura” do Teatro do Campo Alegre?
Então, inscreve-te no CASTING que iremos realizar nos dias 1 e 2 de Outubro no TCA (Porto).
Os candidatos seleccionados serão convidados a participar em algumas das sessões regulares da programação das “Quintas de Leitura” em 2010.
INSCRIÇÕES
Há uma inscrição prévia OBRIGATÓRIA através do e-mail pvaz@tca-porto.pt . Só serão aceites as inscrições realizadas no período de 7 a 29 de Setembro. Todos os candidatos admitidos serão contactados, via e-mail, para confirmação e marcação da hora do respectivo casting.
Da inscrição têm de constar obrigatoriamente os seguintes elementos: nome completo, data de nascimento, naturalidade e contacto telefónico.
Tens de trazer um poema à tua escolha. Irás ler ainda um poema seleccionado por nós.
Para esclarecimento de qualquer dúvida, contactar, a partir de dia 7 de Setembro, Patrícia Vaz através do 22 606 30 17.
(ver mais AQUI)
Então, inscreve-te no CASTING que iremos realizar nos dias 1 e 2 de Outubro no TCA (Porto).
Os candidatos seleccionados serão convidados a participar em algumas das sessões regulares da programação das “Quintas de Leitura” em 2010.
INSCRIÇÕES
Há uma inscrição prévia OBRIGATÓRIA através do e-mail pvaz@tca-porto.pt . Só serão aceites as inscrições realizadas no período de 7 a 29 de Setembro. Todos os candidatos admitidos serão contactados, via e-mail, para confirmação e marcação da hora do respectivo casting.
Da inscrição têm de constar obrigatoriamente os seguintes elementos: nome completo, data de nascimento, naturalidade e contacto telefónico.
Tens de trazer um poema à tua escolha. Irás ler ainda um poema seleccionado por nós.
Para esclarecimento de qualquer dúvida, contactar, a partir de dia 7 de Setembro, Patrícia Vaz através do 22 606 30 17.
Etiquetas:
casting,
poesia,
Teatro Campo Alegre
Assinar:
Postagens (Atom)