Exame de Literatura Portuguesa
Prova de Literatura Portuguesa e Cenários de Resposta
DESTINO
Quem disse à estrela o caminho
Que ela há-de seguir no céu?
A fabricar o seu ninho
Como é que a ave aprendeu?
Quem diz à planta
E ao mudo verme que tece
Sua mortalha de seda
Os fios quem lhos enreda?
Ensinou alguém à abelha
Que no prado anda a zumbir
Se à flor branca ou à vermelha
O seu mel há-de ir pedir?
Que eras tu meu ser, querida,
Teus olhos a minha vida,
Teu amor todo o meu bem...
Ai! não mo disse ninguém.
Como a abelha corre ao prado,
Como no céu gira a estrela,
Como a todo o ente o seu fado
Por instinto se revela,
Eu no teu seio divino
Vim cumprir o meu destino... Vim, que em ti só sei viver,
Só por ti posso morrer.
Almeida Garrett
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Na casa defronte de mim e dos meus sonhos | Álvaro de Campos
Na casa defronte de mim e dos meus sonhos,
Que felicidade há sempre!
Moram ali pessoas que desconheço, que já vi mas não vi.
São felizes, porque não sou eu.
As crianças, que brincam às sacadas altas,
Vivem entre vasos de flores,
Sem dúvida, eternamente.
As vozes, que sobem do interior do doméstico,
Cantam sempre, sem dúvida.
Sim, devem cantar.
Quando há festa cá fora, há festa lá dentro.
Assim tem que ser onde tudo se ajusta —
O homem à Natureza, porque a cidade é Natureza.
Que grande felicidade não ser eu!
Mas os outros não sentirão assim também?
Quais outros? Não há outros.
O que os outros sentem é uma casa com a janela fechada,
Ou, quando se abre,
É para as crianças brincarem na varanda de grades,
Entre os vasos de flores que nunca vi quais eram.
Os outros nunca sentem.
Quem sente somos nós,
Sim, todos nós,
Até eu, que neste momento já não estou sentindo nada.
Nada! Não sei...
Um nada que dói ...
Álvaro de Campos
Revisões da Matéria dada # 7 [Bocage]
Bocage é um poeta de claro-escuro, ora de sombras nocturnas, ora de serena luminosidade. O poeta consumiu-se na busca incessante de uma felicidade impossível, ora inventando mulheres quiméricas, idealizando mulheres de carne e osso que depressa o decepcionavam, quando não o desiludiam de si próprio, ora evadindo-se pela entrega ao prazer sensual. O sentimento agudo da frustração leva-o a pensar no suicídio. A morte horroriza-o e ao mesmo tempo exerce nele uma poderosa sedução: é o esquecimento, a paz. Por isso Bocage elogia a Noite, símbolo da morte, e descreve gostosamente a paisagem nocturna povoada de animais sinistros muito em voga no Pré-Romantismo: o mocho, o corvo.
PERCURSO BIOGRÁFICO:
• nascimento em Setúbal a 15 de Setembro de 1756;
• embarque para a Índia e passagem pelo Brasil em 1786;
• regresso a Lisboa em 1790;
• publicação do 1º tomo das Rimas em 1791;
• vida dissoluta passada entre os cafés, os salões e uma boémia generalizada;
• obsessão do paralelismo existente entre a sua vida e a de Camões;
• prisão, por delito contra o Estado ( irreverências antimonárquicas e anticatólicas) em 1797;
• estada, por decisão do Tribunal, no Mosteiro de São Bento da Saúde, em 1798;
• publicação do 2º tomo das Rimas, em 1799;
• publicação do 3º tomo das Rimas, em 1804;
• morte a 21 de Dezembro de 1805.
BOCAGE "CLARO" - NEOCLASSICISMO
Natureza colorida e esplendorosa ( Primavera e Verão), alegre e suave ("locus amoenus")
Domínio da razão.
Uso da mitologia pagã: Amores, Zéfiro, Vénus, Mavorte
imitação dos clássicos greco-latinos e de autores quinhentistas como Camões
alegoria
Forma: soneto.
Vocabulário erudito.
Linguagem oratória, recheada de exclamações e hipérboles.
Exemplo: Olha, Marília, as flautas dos pastores / Que bem que soam, como estão cadentes! /
Olha o Tejo a sorrir-se! Olha: não sentes / Os Zéfiros brincar por entre as flores?
BOCAGE "ESCURO" -PRÉ-ROMANTISMO
Natureza sombria e melancólica (Outono e Inverno), agreste ("locus horrendus").
Natureza - reflexo do estado de espírito do poeta.
Valorização do sentimento (predomínio da sensibilidade sobre a razão).
Desespero, angústia, melancolia, solidão, tristeza, gosto pelo fúnebre e nocturno.
Relações profundamente afectivas entre a Natureza e o EU.
Linguagem nova que melhor traduza a força dos sentimentos, feita de exclamações, vocativos, suspensões frásicas, etc.
Mochos, pios, gemidos, ciprestes, chorar, praguejar, delirar, sombras, furacões, ira, etc.
A obsessão da morte:
- encarada como libertação;
- crença no perdão final, associado ao arrependimento e sentimentos religiosos
- Personificações constantes .
Natureza - reflexo do estado de espírito do poeta.
Valorização do sentimento (predomínio da sensibilidade sobre a razão).
Desespero, angústia, melancolia, solidão, tristeza, gosto pelo fúnebre e nocturno.
Relações profundamente afectivas entre a Natureza e o EU.
Linguagem nova que melhor traduza a força dos sentimentos, feita de exclamações, vocativos, suspensões frásicas, etc.
Mochos, pios, gemidos, ciprestes, chorar, praguejar, delirar, sombras, furacões, ira, etc.
A obsessão da morte:
- encarada como libertação;
- crença no perdão final, associado ao arrependimento e sentimentos religiosos
- Personificações constantes .
Exemplo:O Céu, de opacas sombras abafado, / Tornando mais medonha a noite feia; / Mugindo sobre as rochas, que salteia,
O mar, em crespos montes levantado.
O mar, em crespos montes levantado.
Revisões da Matéria dada #6 [Literatura Portuguesa]
O amor é um tema da lírica camoniana. Partindo da sua experiência de leitor, redija um texto, entre cem e duzentas palavras, em que registe as suas impressões de leitura, relativamente à temática do amor na poesia de Camões.
Camões foi um poeta do amor, tendo cantado de várias maneiras. Na sua lírica ora tratou o amor de uma forma mais espiritual, ora se deixou seduzir pelo amor carnal.
Porventura, o seu verso mais conhecido é “amor é fogo que arde sem se ver”, aí, o poeta espelha na perfeição os efeitos contraditórios do amor. Se por um lado, de acordo com o Renascimento, louva uma amor espiritual, isto é, uma veneração pela mulher amada; por outro lado há, nesta poética, uma desejo amoroso incontido (amor carnal).
Ao amor espiritual corresponde uma mulher próxima da Laura de Petrarca, loira, olhos claros, tez branca e rosada, lábios vermelhos, sorriso distante, inacessível. Porém, Camões, por vezes, canta um amor carnal – “Pede o desejo dama que vos veja”- onde demonstra que o corpo dele quer mais do que apenas a contemplação. A mulher que lhe desperta este sentimento / desejo tem o seu ideal na deusa do Amor e da sensualidade: Vénus.
Quase seis séculos depois, são ainda os versos de Camões que evocamos quando nos queremos referir a este sentimento.
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Revisões da Matéria dada #5 [Literatura Portuguesa]
Comente a seguinte afirmação de Alexandre Herculano:
"Fernão Lopes adivinhou os princípios da moderna história: a vida dos tempos de que escreveu transmitiu-a à posteridade, e não, como outros fizeram, somente um esqueleto de sucessos políticos e de nomes célebres. Nas crónicas de Fernão Lopes não há só história: há poesia e drama; há a Idade Média com sua fé, seu entusiasmo ou amor de glória."
Com efeito, é a Fernão Lopes que se deve a história moderna, pois, como cronista-mor do reino, ele teve o cuidado de, em crónica, deixar registado os factos mais relevantes.
A verdade, como nota Alexandre Herculano, é que Fernão Lopes foi o primeiro a mostrar preocupação com a verdade dos factos, livre da “mundanal afeição”. De facto, como refere no Prólogo à Crónica de D. João I, há um cuidado em dizer a verdade, mesmo que isso implique não fazer o elogio dos seus. Para tal baseia-se em documentos históricos e em leituras várias, não se deixando, ou melhor, tentando não se deixar contaminar pelos afectos e pelo “sangue”. O povo, em Fernão Lopes, ganha uma expressão redobrada: é a “arraia miúda” quem escolhe o seu líder (vide Mestre de Avis em Crónica de D. João I). A história é feita por todos e não apenas pela nobreza.
O que foi anteriormente referido, não invalida que o cronista não tenha embelezado a língua portuguesa. O cronista serviu-se da língua para exprimir sensações, para nos transportar para a época dos factos. Assim, concordamos com Herculano, pois ler Fernão Lopes é viajar no tempo, é fazer parte da “arraia miúda”.
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Fernão Lopes
Revisões da Matéria dada #4 [Literatura Portuguesa]
Tendo presente a sua leitura de alguns dos poetas do século XIX (Almeida Garrett, Antero de Quental, Cesário Verde, António Nobre e Camilo Pessanha), elabore um texto, de cem a duzentas palavras, em que fale do poeta para si mais marcante, apresentando as razões da sua opção.
Almeida Garrett
Almeida Garrett foi, porventura, o poeta mais importante do Romantismo português. Coube a este poeta a tarefa de renovar a poesia portuguesa, introduzindo uma nova linguagem.
“Folhas Caídas” é a expressão vívida da novidade linguística e temática na poesia portuguesa. Aí, o autor de “Frei Luís de Sousa” exprime as contradições do amor, declarando, por exemplo, “não te amo, quero-te”. A um amor físico, carnal, corresponde também uma mulher fatal, uma sereia como a que nos é apresentada em “Barca Bela”.
A renovação linguística consistiu na introdução de um estilo coloquial, da simulação do diálogo, do uso da pontuação com fins emotivos. A emoção sobra do verso e, por conseguinte, não cabe nas rígidas formas clássicas.
A importância de Garrett, seja na sua modernidade estética, seja na continuidade da tradição, foi reconhecida por Fernando Pessoa. Este poeta diz-se seguidor de Garrett.
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Revisões da Matéria dada # 3 [Literatura Portuguesa]
Apresente as suas impressões de leitura sobre uma das seguintes peças de teatro:
– Gil Vicente – Inês Pereira ou Lusitânia ou Dom Duardos;
– António José da Silva – Guerras do Alecrim e Manjerona;
– Almeida Garrett – Um Auto de Gil Vicente ou O Alfageme de Santarém;
– Raul Brandão – O Gebo e a Sombra ou O Doido e a Morte;
– José Cardoso Pires – O Render dos Heróis.
Redija um texto bem estruturado, de cem a duzentas palavras.
Comece por identificar, na folha de respostas, o nome do autor e o título da obra por si seleccionada.
Farsa Inês Pereira, de Gil Vicente
A Farsa de Inês Pereira, de Gil Vicente, dito pai do teatro português, datada do séc. XVI versa sobre as relações amorosas e sobre a forma como a mulher é, ou melhor, era, tratada. Neste texto dramático, Gil Vicente criou um enredo onde a mulher assume um papel preponderante.
Na corte duvidava-se da originalidade de suas obras, por isso, e a fim de provar que merecia a fama que tinha, desenvolveu uma intriga a partir do mote popular “Antes asno que me leve, que cavalo que me derrube”. É com base neste dito que é contada a história de Inês Pereira, rapariga idealista, sonhadora que, depois de ver os seus sonhos desfeitos, adopta uma postura mais pragmática na vida.
A novidade desta peça, em nosso entender, prende-se com o facto de a mulher ser apresentada como emancipada. Inês escolhe o seu destino, sem dar ouvidos à mãe, voz da razão, nem à alcoviteira. Porém, mesmo depois do casamento se ter tornado uma decepção, volta a arriscar. No entanto, desta vez Inês não se deixa ludibriar e, para não ser enganada, escolhe um marido “asno”. Consideramos que Gil Vicente ousou, ao não penalizar Inês Pereira pelos seus actos, afinal a sua conduta imprópria foi recompensada e ilustrada pelo provérbio: “Antes asno que me leve, que cavalo que me derrube”. Assim, esta pérola vicentina pode ser considerada uma obra feminista avant la lettre.
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Gil Vicente
Revisões da Matéria dada # 2 [Literatura Portuguesa]
Apresente as suas impressões de leitura sobre uma das seguintes peças de teatro:
– Almeida Garrett – Um Auto de Gil Vicente ou O Alfageme de Santarém;
– Raul Brandão – O Gebo e a Sombra ou O Doido e a Morte;
Redija um texto bem estruturado, de cem a duzentas palavras.
Comece por identificar, na folha de respostas, o nome do autor e o título da obra por si seleccionada.
Um Auto de Gil Vicente, de Almeida Garrett
Um Auto de Gil Vicente é um drama romântico de Almeida Garrett. Com esta peça, o autor de “Folhas Caídas” procurou, concomitantemente, homenagear Gil Vicente, dito pai do teatro português, e promover uma renovação do teatro.
Neste drama há um triângulo amoroso entre Paula Vicente (filha de Gil Vicente), Bernardim Ribeiro (poeta) e Beatriz (princesa). Paula Vicente representa uma mulher culta e orgulhosa, capaz de abdicar do amor que sente, para não ferir os sentimentos de Beatriz, sua amiga, mas também sua superior. Beatriz, que ama e é amada por Bernardim, cumpre os desígnios de seu pai e, a bem da nação, casa um príncipe italiano. Em nosso entender, Garrett conseguiu exprimir, de forma superior, as subtilezas dos sentimentos que atravessam Paula Vicente, personagem pivot do drama. Note-se que ela é o elo de ligação entre Gil Vicente e Bernardim Ribeiro; entre o elenco da peça; entre os homens da corte italiana e Beatriz.
Almeida Garrett, na escrita deste texto, revelou a sua argúcia ao construir um texto teatral que, dentro dele, num processo metatextual, insere outro texto, Cortes de Júpiter, de Gil Vicente.
Garrett prova à saciedade a sua mestria na arte dramatúrgica, afirmando-se como um dos raros talentos capaz de brilhar quer na narrativa, quer na lírica, quer no género dramático.
Revisões da Matéria dada # 1 [Literatura Portuguesa]
[daqui]
[rascunho]
Amor de Perdição, Camilo Castelo Branco
Aspecto: Morte (Amor)
Apresente um aspecto que considere significativo numa das obras narrativas do século XIX ou do século XX, indicadas no Programa, que tenha lido. Redija um texto bem estruturado, de cem a duzentas palavras. Comece por identificar, na folha de respostas, o nome do autor e o título da obra por si seleccionada.
[rascunho]
Amor de Perdição, Camilo Castelo Branco
Aspecto: Morte (Amor)
• Amor e morte conjugam-se de forma trágica em Amor de Perdição, porém é um amor que sobrevive à própria morte, à semelhança de outros amores míticos: o de Pedro e Inês.
A tragicidade desta novela adensa-se no final, quando Simão lê a carta de Teresa ela já havia morrido, é um presságio que ele pouco mais tempo viverá- Os dois morrem por e de amor, mas há a acrescentar uma outra vítima inocente , Mariana.
Mariana é um símbolo de abnegação, ama em silêncio, respeita o amor/ paixão de Simão e Teresa servindo de intermediária e, no final, suicida-se, morrendo abraçada a Simão.
• O amor, nesta novela, é uma fatalidade: é por amor que Simão muda, é por amor que Teresa contraria o pai, é por amor que morre Teresa, Simão, Mariana.
• A novela de Camilo pode resumir-se em poucas palavras: “amou, perdeu-se e morreu amando”.
Não inquiro do anónimo futuro | Ricardo Reis
Não inquiro do anónimo futuro
Que serei, pois que tenho,
Qualquer que seja, que vivê-lo. Tiro
Os olhos do vindouro.
Odeio o que não vejo. Se pudera,
Vê-lo, grato o não vira.
Se mo mostrarem num quadro, ou o virarem
Não tenho o que não tenho.
O que o Destino manda, saiba-o ele.
A ignorância me basta.
Ricardo Reis
Que serei, pois que tenho,
Qualquer que seja, que vivê-lo. Tiro
Os olhos do vindouro.
Odeio o que não vejo. Se pudera,
Vê-lo, grato o não vira.
Se mo mostrarem num quadro, ou o virarem
Não tenho o que não tenho.
O que o Destino manda, saiba-o ele.
A ignorância me basta.
Ricardo Reis
O FUTURO | Maria Isabel Barreno
O FUTURO
Ela sujava uma faca, lavava-a logo. Tentava por esse meio evitar o trabalho que t eria, no futuro. Assim que qualquer pingo, qualquer cinza, caía, ela limpava logo. Mantinha a casa impecável, imaculada – na virgindade de um não-uso aparente. Sobre todo o uso real que a casa tinha, com família de quatro pessoas, ela tecia sem parar essa consistente teia de virginal recomeço. Tudo com o fito de manter o futuro limpo: que nenhuma tarefa monstruosa, nenhuma montanha de gordura e de poeira a aguardasse, medonha, num côncavo do porvir. Nesse futuro ela esperaria, sentada, com as mãos no regaço, os grandes acontecimentos – enfim! – da sua vida. A graça das grandes aventuras só poderia chegar abrindo-se-lhe um tempo, depois de todas as tarefas cumpridas, um tempo de repouso num espírito despreocupado.
Por incrível que pareça, esse tempo chegou. Um dia, ela descobriu-se sentada numa cadeira, sem nada que fazer. Os filhos haviam já deixado a casa, o marido morrera. Ela estava só. Conquistara o futuro. Todas as tarefas estavam definitivamente cumpridas, e ela estava disponível para os grandes acontecimentos. Ficou transida de medo vendo à sua frente um enorme vazio: todas as energias do futuro haviam sido gastas em cada presente que ela vivera.
Maria Isabel Barreno [Contos analógicos]
Portugal | Jorge Sousa Braga
Portugal
Eu tenho vinte e dois anos e tu às vezes fazes-me sentir como se tivesse oitocentos
Que culpa tive eu que D. Sebastião fosse combater os infiéis ao norte de África
só porque não podia combater a doença que lhe atacava os órgãos genitais
e nunca mais voltasse
Quase chego a pensar que é tudo uma mentira
que o Infante D. Henrique foi uma invenção do Walt Disney
e o Nuno Álvares Pereira uma reles imitação do Príncipe Valente Portugal
Não imaginas o tesão que sinto quando ouço o hino nacional
(que os meus egrégios avós me perdoem)
Ontem estive a jogar póker com o velho do Restelo
Anda na consulta externa do Júlio de Matos
Deram-lhe uns electro-choques e está a recuperar
aparte o facto de agora me tentar convencer que nos espera um futuro de rosas Portugal
Um dia fechei-me no Mosteiro dos Jerónimos a ver se contraía a febre do Império
mas a única coisa que consegui apanhar foi um resfriado
Virei a Torre do Tombo do avesso sem lograr uma pérola que fosse
das rosas que Gil Eanes trouxe do Bojador Portugal
Vou contar-te uma coisa que nunca contei a ninguém Sabes
Estou loucamente apaixonado por ti
Pergunto a mim mesmo
Como me pude apaixonar por um velho decrépito e idiota como tu
mas que tem o coração doce ainda mais doce que os pastéis de Tentugal
e o corpo cheio de pontos negros para poder espremer à minha vontade
Portugal estás a ouvir-me?
Eu nasci em mil novecentos e cinquenta e sete Salazar estava no poder nada de ressentimentos
um dia bebi vinagre nada de ressentimentos Portugal
Sabes de que cor são os meus olhos?
São castanhos como os da minha mãe Portugal
gostava de te beijar muito apaixonadamente na boca
Jorge Sousa Braga
Os antigos invocavam as Musas. | Álvaro de Campos
Os antigos invocavam as Musas.
Nós invocamo-nos a nós mesmos.
Não sei se as Musas apareciam —
Seria sem dúvida conforme o invocado e a invocação. —
Mas sei que nós não aparecemos.
Quantas vezes me tenho debruçado
Sobre o poço que me suponho
E balido «Ah!» para ouvir um eco,
E não tenho ouvido mais que o visto —
O vago alvor escuro com que a água resplandece
Lá na inutilidade do fundo...
Nenhum eco para mim...
Só vagamente uma cara,
Que deve ser a minha, por não poder ser de outro.
É uma coisa quase invisível,
Excepto como luminosamente vejo
Lá no fundo...
No silêncio e na luz falsa do fundo...
Que Musa!
Álvaro de Campos
Nós invocamo-nos a nós mesmos.
Não sei se as Musas apareciam —
Seria sem dúvida conforme o invocado e a invocação. —
Mas sei que nós não aparecemos.
Quantas vezes me tenho debruçado
Sobre o poço que me suponho
E balido «Ah!» para ouvir um eco,
E não tenho ouvido mais que o visto —
O vago alvor escuro com que a água resplandece
Lá na inutilidade do fundo...
Nenhum eco para mim...
Só vagamente uma cara,
Que deve ser a minha, por não poder ser de outro.
É uma coisa quase invisível,
Excepto como luminosamente vejo
Lá no fundo...
No silêncio e na luz falsa do fundo...
Que Musa!
Álvaro de Campos
Um lugar para os clássicos no TNSJ
Mais um encontro entre o 1.º A da EBI da Corujeira e o 11.ºD. Hoje, no "castelo" da Luísa Portal, que é como quem diz, no Teatro Nacional São João.
Conhecemos os bastidores e levámos Almada Negreiros ao Salão Nobre...
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